17 de dez. de 2010

McCaricaturas


Nos dias 4 e 5 de dezembro, fizemos caricaturas ao vivo no novo McDonald´s de Piracicaba. Era a semana de inauguração da unidade 600 da rede no Brasil.

Oitenta e dois clientes deixaram seus hamburgueres de lado por um instante para prestigiar nosso trabalho. E levaram suas caricaturas de graça para casa.

Vai um agradecimento à Pamela Peruzzi, da Q11 Agência, pela confiança. Ela também é a autora das fotos desta postagem. Clique nelas para ampliá-las.

9 de dez. de 2010

Meninas superpoderosas (e um rapaz de camarote)



Alessandra, Louise, Sueli, Ana Carolina e Pamela. Essas são as mulheres da foto acima. O elemento masculino da foto é o dono deste blog.

A Alessandra deu aulas para a primeira turma do curso de Redação Jornalística do Senac Piracicaba.

A foto reuniu quase todas as alunas e aluno do curso. Faltou a Adriana, que se mandou para terras fluminenses.

Um prazer ter conhecido essas mulheres superpoderosas - e talentosas, é claro.

A produção de textos do curso está aqui.

Valeu, meninas!

1 de dez. de 2010

É nóis, Noel!

A minha caricatura de Noel Rosa (ao lado) foi selecionada para o livro Noel é 100.

A obra é uma homenagem aos 100 anos de nascimento do compositor.

O concurso de caricaturas teve mais de 150 participantes. 40 deles tiveram trabalhos escolhidos para o livro.

Os jurados foram os desenhistas Cássio Loredano, Baptistão, Ulisses e Ildo Nascimento.

O livro Noel é 100 sai em 2011, editado pelo Instituto Memória Musical Brasileira e Imprensa Oficial do Rio de Janeiro.

Os trabalhos selecionados estão aqui.

29 de nov. de 2010

As aparências esganam


(Tira da série Um pamonha de Piracicaba)


Na noite do último domingo, as matérias da tevê sobre a ação policial no Complexo do Alemão explodiram em audiência. Na mesma noite, o cantor e compositor Léo Jaime, ídolo musical dos anos 80, combatia em outro front. Na internet.

Um internauta insone, em vez de assistir a tevê, resolveu fazer uma referência nada elogiosa à pança do cantor no Twitter. A grosseria gerou um caminhão de respostas ao tuiteiro com o rei na barriga. Em meio a defesas feitas pelos seguidores de Léo, o próprio assim se manifestou: “Eu não sou bonito mas tenho o maior corpão”.

É fato que as mulheres tem dificuldade para aceitar homens com quilinhos a mais. A não ser que esses quilos sejam adquiridos após o casamento, sob a cúpula do lar-doce-lar. Se a casa for adoçada com gotinhas de algum produto diet, melhor ainda.

As componentes do sexo feminino sofrem pressões da moda, da televisão e de outras mulheres para perderem todo o peso necessário. A tal pressão não deixa de ser um peso para se carregar. Mais um.

Para o parceiro da mulher incomodada com culotes indesejados, a questão é irrelevante. Afinal, num relacionamento saudável, o rapaz não deseja apenas saciar a fome de carne. Se a questão for somente essa, ele pode procurar uma churrascaria e se esbaldar. Sai até mais barato que namoro ou casamento.

O rapaz com amor no coração quer achar a sua cara-metade. Porque não dá pra ficar andando por aí com uma metade faltando. Independente da outra metade ser um espeto de churrasco ambulante. Com ou sem o churrasco no espeto.

Já tentei namorar uma moça fora dos padrões de beleza atuais. Imagino que o namoro tenha terminado por conta das minhas curvas, dignas de uma rodovia repleta de pedágios, e não as dela, sem placas de alerta na estrada.

O cantor Léo Jaime se declarou feliz possuidor de um corpão. Vou dizer o mesmo para minhas futuras namoradas. Quem não aceitar o meu corpão, com curvas perigosas e tudo, que faça uma lipoaspiração nos neurônios.

28 de nov. de 2010

Seis a um



As moças da foto, compenetradas como elas só, são alunas do curso de Redação Jornalística do Senac, em Piracicaba. O semicareca de olhos verdes é o dono deste blog.

O blog do curso, em construção, terá a produção das moças de classe. E do moço desclassificado também.

Enquanto não há textos da turma a mostrar, fique com os rostos femininos aí de cima. Você não vai achar ruim.

22 de nov. de 2010

Só desenhos

O Novo Brazil Cartoon está abrigando blogs exclusivos de artistas gráficos brasileiros e internacionais.

O meu blog é este aqui.

Aguardamos sua visita.

17 de nov. de 2010

Deus lhe pague, Padre Marcelo

Dia após dia, Deus empresta seus ouvidos às preces de fiéis espalhados pelo planeta Terra. Já o padre Marcelo Rossi deve ter ficado de orelhas em pé com os recordes de vendagem de seus CDs nos últimos anos do século vinte. Antes, é claro, da aparição de um concorrente de peso: o padre-galã Fábio de Melo.

O novo livro do padre Marcelo, Ágape (“Amor” em grego), teve lançamento no ginásio de esportes de um colégio tradicional de Piracicaba, no interior de São Paulo. A maratona de autógrafos aconteceu dois dias após o último feriado de quinze de novembro. As viagens para lançamentos semelhantes em outras cidades devem acontecer em seguida.

Para este pobre pecador que vos digita neste instante, a busca de informações sobre o lançamento do livro começou com um telefonema ao número impresso nos cartazes de divulgação. Uma voz cavernosa, provavelmente emitida das profundezas do inferno, reagiu mal à pergunta sobre um provável papo com o padre, num horário alternativo ao dos autógrafos. Depois do “não” curto e grosso, seguido de um telefone desligado na cara da voz resmungona, este peregrino que vos escreve marchou rumo ao ginásio.

Numa avenida próxima ao Rio Piracicaba, sob um sol de fazer corar um padre de pedra, a entrada do evento estava tomada por funcionários da livraria responsável pelo lançamento. Senhoras perguntavam o preço da obra do padre e ali mesmo assinavam cheques de vinte reais, o valor de cada exemplar do livro.

Seguranças de ternos sombrios e caras idem espalhavam-se por todo o ambiente do evento, tomado por cadeiras de plástico, dessas comuns em praias e churrascos de fim de semana. Uniformizadas de branco, morenas e loiras sorridentes cumprimentavam os passantes, cada um com seu livro na mão.

O respeitável público, ocupante da maioria das quatrocentas cadeiras do recinto, era composto por mulheres da “melhor idade” e seus acompanhantes. Nos fundos do ginásio, embaixo da tabela de basquete e ao lado da saída de emergência, um banner-outdoor trazia o anúncio do livro do padre Marcelo. Numa pose compenetrada para a foto do banner, olhando para o Altíssimo, o religioso parecia mesmo é olhar para a frase do anúncio: “Ágape, um livro que fala ao coração”.

A obra teve sua redação iniciada num momento delicado para o pregador: após uma cirurgia e o período de recuperação. Nesse período, o padre chegou a aparecer na televisão de cadeira de rodas, amolecendo o coração de quem se acostumou a vê-lo em suas saltitantes pregações. Recuperado, o religioso concluiu o livro, com interpretações pessoais para salmos do Evangelho de São João.

Se o padre Marcelo teve uma santa paciência para se recuperar, os compradores de Ágape usaram do mesmo recurso para encarar a longa espera por um autógrafo. A vigília não abafou o eco das discretas vozes em desencontro por todo o ginásio. Próximas à arquibancada, ladeando o canto esquerdo do local, os fãs aguardavam o momento do contato com o autor. Atrás das últimas almas da fila, um segurança zelava pela paz do senhor. Que vinha a ser o senhor sentado à mesa de caneta em punho, assinando, conversando e abençoando.

Examinado o ambiente, o peregrino que vos relata quis usar a saída de emergência sem se fazer notar, já que não havia comprado o Ágape. Uma moça envelopada com um blazer barrou a retirada: “Já autografou seu livro?” Diante do meu “não” curto e fino, a vigilante fez cara de censura, mas liberou a saída. Deus lhe pague, meu anjo!

10 de nov. de 2010

Quem quer dinheiro? O Silvio...


Essa minha charge saiu num extinto portal de internet, há nove anos. Com o estouro da primeira bolha de internet, o portal saiu do ar.

Agora o apresentador volta às manchetes, inclusive na rede Globo, após ver seu Banco PanAmericano sofrer um rombo bilionário.

A salvação da pátria para o empresário e seu Banco veio com os recursos injetados pelo Fundo Garantidor de Crédito, que taparam o buraco.

O resto da história já é de conhecimento dos telespectadores, aposentados, pensionistas e demais tietes do empresário oitentão.

Pois é. Agora é com você, Silvio!

2 de nov. de 2010

Herói de quem mesmo?

Nesse dia meio mortão de Finados, vi na televisão que haverá mais um Grande Prêmio de Fórmula 1 em Interlagos.

Já vão longe os domingos em que Ayrton Senna inoculou nos brasileiros a necessidade de sempre comemorar uma vitória sua toda semana na Fórmula 1. De preferência com a narração em altos brados do locutor Galvão Bueno.

Quanto a Interlagos, jamais coloquei os pés no autódromo de mesmo nome. No bairro paulistano já andei e frequentei casa de amigo, em churrascos e encontros que não comemoravam exatamente vitórias de pilotos brasileiros nas corridas dominicais.

Ayrton Senna, coitado, não sobreviveu como mito para as novas gerações, por mais que se force a barra para isso. Em vida, plantou a semente para um instituto de projetos sociais e aprovou um gibi com seu nome no diminutivo.

Volta e meia o gibi Senninha volta às bancas, mas jamais teve vendas expressivas. Talvez porque o personagem seja tão insosso quanto seu inspirador. Que graça pode ter um menino que só pensa em correr? Assim o tipo jamais chegaria a lugar algum. Talvez à vitória, mas e daí? Tanto Senna correu que chegou cedo demais. À morte.

E já que ainda estamos no dia de Finados, cabe a lembrança de quem um dia quis ser muito vivo ganhando todas e acabou arrebentado num muro. Belo legado para as novas gerações.

26 de out. de 2010

Chuvas, relâmpagos, trovoadas e enchentes

Tirando alguns comentários esparsos e mal-humorados no Twitter, ando evitando falar de campanha presidencial neste blog. Porque não adianta se manifestar quando todo mundo quer ter razão na base da falta de razão.

Nesta segunda-feira que passou, houve o penúltimo debate do segundo turno das eleições para presidente. Mais uns dias e teremos uma nova pessoa a ocupar a cadeira tão cobiçada a cada quatro anos.

A tira desta postagem não passa de uma ilustração amena do clima tempestuoso que tomou conta dessa campanha. Entre chuvas e trovoadas, espero que o Brasil se salve.

19 de out. de 2010

Perotti, inesquecível

Sabe aquelas coisas que a gente se lembra que parecem folclore, e não são? Uma delas, no meu caso, foi um certo Sujismundo. Assim como um dia houve o boi da cara preta que pegava as meninas com medo de careta, o Sujismundo era lembrado como o cara que as crianças não seriam caso tomassem aquele banho de todo santo dia.

Sujismundo foi uma espécie de Cascão adulto, estrela de pequenas animações encomendadas pelo governo brasileiro nos anos 70. Os desenhos protagonizados pelo personagem, de cabeça grande e sujeira maior ainda, compunham uma campanha de saúde pública de alcance nacional.

Só fui saber que Sujismundo existiu no imaginário verdeamarelo, para além dos temores que as mamães zelosas infiltravam nas cabecinhas de seus filhinhos, ao conhecer seu criador Ruy Perotti Barbosa.

Natural de Valença, cidade do estado do Rio de Janeiro que também deu ao mundo a violonista Maria Rosa Canellas (ou Rosinha de Valença), Perotti deu o ar de sua graça em Piracicaba, cidade onde nasci e sou cartunista, nos anos 90 do século passado. Esteve numa escola de desenho, a convite de seu proprietário, para um curso especial de criação de histórias em quadrinhos, com duração de três meses.

Naquela altura, Ruy Perotti era dono de um vasto currículo. Tinha sido sócio da Lynxfilm, estúdio de animação que produziu os primeiros desenhos animados de Mauricio de Sousa para o extrato de tomate Elefante, além de criar o Sujismundo para a campanha citada acima. Nos anos 70, dirigiu o núcleo de revistas infantis da editora Abril, onde aproveitou para veicular seus gibis do diabo Satanésio e do macaco Gabola. Fico imaginando se hoje a Abril teria peito pra bancar um gibi cujo personagem principal era um diabo... Claro que Anjoca acabava sempre dando um jeito de neutralizar as diabruras do Satanésio, mas o público jogou água na fervura, e Satanésio foi cancelado após poucas edições em banca.

Poucos anos antes do curso em Piracicaba, o criador do diabinho dera forma ao Variguinho, avião-mascote da Varig, para animações na TV e gibis de banca. A ligação de Perotti com a Varig já vinha de longa data, com os comerciais animados do Seu Cabral, Urashima Taro e Dom Quixote, criados para a empresa nos já distantes anos 60.

Nos três meses de convivência com o multifacetado artista e animador, a seriedade dos conceitos do velho Perotti no décimo-quarto andar da escola era equilibrada pelos risos bonachões nos almoços no térreo após as aulas. Careca, bigode tingido de preto, baixote e barrigudo, parecia o avô severo que todo neto adora esperar o momento certo pra esculhambar.

A tal esculhambação veio ao fim das aulas, quando apresentamos projetos completos de personagens e histórias criadas como conclusão do curso. Inventei uma turma de bichos falantes liderada pelo coelho Sobral, um lenhador metido a machão. Na série de tiras, a única coisa que Sobral derrubou foi a resistência do porco Ferraz, um guarda-florestal aboiolado que se derretia pelo coelho. A floresta só não virava cinzas por causa da vigilância do pingüim Doutor Tóim, espécie de patrão e pai do porquinho.

As tiras da turma do coelho Sobral foram as primeiras que inventei de forma mais conscientemente planejada, graças aos ensinamentos de Ruy Perotti. Uma das melhores lembranças que tenho dessa fase foram as gargalhadas dele ao ouvir minha descrição do porquinho Ferraz. “Um porquinho bicha!” E morria de rir. Ao me recordar disso para a redação destas linhas, não consigo evitar as lágrimas, que vieram quando soube da morte do artista anos depois das nossas aulas em Piracicaba.

O bonachão que criou figuras queridas do imaginário nacional pode ter sido uma figura folclórica para o autor destas maldigitadas, mas existiu de fato e de direito na vida dos brasileiros, e ainda bem.

18 de out. de 2010

Guilherme Arantes

Há pouco tempo, fiz um relato sobre a visita de Eumir Deodato a Piracicaba. A provar que gosto dos caras do piano popular brasileiro, voltei a ouvir a obra do Guilherme Arantes. E lembrei que já bati um papo com ele aqui na minha cidade. Ou melhor, ele é que bateu um papo comigo. Como bom leonino, Arantes gosta de ter a palavra final num diálogo. A palavra inicial também.


O texto sobre Guilherme Arantes, assim como o de Deodato, saíram no jornal Tribuna Piracicabana. Como o jornal não tinha site em fevereiro de 2005, data de publicação do relato sobre Arantes, o texto segue abaixo. Também fiz uma caricatura do compositor na ocasião, essa que está na postagem.

Militante verde, artista maduro

Às vésperas dos 30 anos de carreira, o compositor Guilherme Arantes solta o verbo contra as gravadoras e defende a causa ecológica



O ruído de piano bate-estaca invade a boate fechada. Lá fora, moças de ingresso à mão soltam gritinhos na porta do recinto. Em dez minutos, o tecladista termina de passar o som do instrumento, sentando-se a uma mesa de canto. Ele e sua equipe jogam alguma conversa fora e goles de bebida goela dentro, antes de uma conversa a dois entre um fã e o artista. Sem rodeios, Guilherme Arantes dá seu recado antes de subir ao palco em Piracicaba, no último sábado de setembro de 2004.



Na década de 80, o artista dava shows em ginásios esportivos, época sem as gigantescas salas de espetáculo hoje predominantes no eixo Rio-São Paulo. A onda daqueles anos era o pop-rock brasileiro, embora o artista não se considere um roqueiro. “Nos anos 80 houve uma bolha de consumo de classe média, uma faixa de público jovem, por força do Plano Cruzado”. Apresentava-se com banda, outros músicos junto. Com a tecnologia atual, faz suas apresentações sozinho: ele e o teclado com arranjos programados e som de voz e piano ao vivo.



O público de um show espera os sucessos acumulados na carreira do artista, mas a visão de Guilherme sobre essa expectativa vai na contramão. “Você tem que olhar uma carreira num conjunto, numa perspectiva... A minha competitividade, com o passar do tempo e da idade, vai diminuindo. Eu não tenho condições, nem obrigação de emplacar sucessos, de virar o Midas da música.” Ele prossegue cortante. “Sucesso é uma palavra muito desgastada. O pessoal do ‘Big Brother’ é sucesso...”. Sinal dos tempos. Nem todo sucesso vem com selo ISO 9000.



Apesar de ter dezenas de canções no coração das platéias, Guilherme não se sentia prestigiado pelos colegas de ofício, ao menos no início de sua caminhada nos anos 70. Em tempo de ditadura militar e censura pesada, compositores engajados como Ivan Lins e Gonzaguinha tinham prestígio, não sucesso. Guilherme tinha sucesso e zero de prestígio. Elis Regina o ajudou, pedindo ao compositor uma canção inédita, Vivendo e aprendendo a jogar, novo hit. Com Planeta Água, segundo lugar no Festival de Música da TV Globo de 1981, veio a consagração definitiva. Apesar do sucesso, do posterior prestígio, Guilherme seguiu sua trilha sonora ao passo da intuição. “As coisas foram acontecendo naturalmente. Eu não fui um bom estrategista. A gente acaba fazendo a carreira em cima da nossa personalidade. Eu tô no meu ambiente”.



As chateações, no entanto, não terminaram. “Hoje me acusam muito de estar fora da mídia. E tem o reverso da moeda, de quem fica muito tempo exposto, depois fica a cobrança de que você tá esquecido”. De antenas ligadas, sem fazer do umbigo o seu mundo, Guilherme traça um retrato do mercado e antevê suas transformações. “O mercado do produto fonográfico está morto! O mercado do futuro é o show ao vivo, aonde você não pode ser clonado”. E segue em frente, em direção ao futuro. “O produto digital subverteu toda uma estrutura industrial que existia. A tendência é que a informação seja uma commodity de acesso livre e gratuito”.


Artista experiente, 30 anos de carreira em 2006, Guilherme começou no tempo do disco de vinil, um suporte físico incopiável. Nessa época, pirata tinha olho de vidro e cara de mau. Hoje, tem cara de camelô. As gravadoras, por sua vez, têm a cara no chão. A indústria cultural brasileira, na opinião do compositor, foi pega desprevenida com as mudanças tecnológicas. “O que garantia o faturamento da indústria era o controle da venda, a oligopolização dos pontos de distribuição. Quando comecei a minha carreira, havia 3000 lojas de disco no país, hoje há 120”.

Outras situações a temer, o compositor aponta. "A grande ameaça será a de uma invasão subterrânea, de nossos recursos hídricos e de biodiversidade." As soluções para a bizarrice ecológica, porém, começam a chegar, com os projetos de replantio de manguezais, em conjunto com a Marinha e o Exército. Uma prática inédita no país, feita pelo Instituto Planeta Água, ONG que o músico mantém no interior da Bahia. "O ambientalismo é um braço do pensamento de esquerda, que tem reservas quanto à participação das Forças Armadas na causa ambiental: isso é um erro. Num futuro próximo, as Forças Armadas atuarão pesadamente na proteção ambiental do Brasil".

A conversa segue por outros terrenos pantanosos. O poder econômico, que garante a permanência das duplas sertanejas na mídia. A corrupção dos espaços da mídia, que garantem a sobrevivência dos gêneros musicais corrompidos. A falta de democratização dos espaços, uma falta de responsabilidade com o público. Guilherme cita o Caetano Veloso de antigamente para falar do hoje. "Ele só consegue ser o mito que é hoje porque fez aquele discurso no Festival, nos anos 60: ‘Vocês não sabem nada, vocês não entendem de estética!’ Porque ele bateu de frente com a preferência da época, que era cuspir a novidade e ficar na mesmice". E os espaços, o que ficaram? "Existia o espaço para o Caetano fazer essa crítica, o espaço da discordância. Com a evolução da mídia para a aferição constante da audiência, para o atendimento dos anseios do público, perdem-se os espaços críticos dentro da mídia".

Para sociedade doente, embalagem bonitinha e vazia. O compositor denuncia um fenômeno que atinge não somente produtos musicais. "Isso acontece em vários setores industriais. Você tem remédios de larga vendagem que não têm efeito nenhum. Grandes sucessos de venda de produtos inócuos." Nem tudo é apocalipse, porém. Maria Rita, filha de Elis, é citada pelo músico para sinalizar o que, em sua opinião, o mercado fonográfico está fazendo em prol do respeito ao ouvido alheio - e do faturamento, claro, que gravadora nunca foi instituição de caridade. "As gravadoras estão aplicando grandes quantias em marketing para artistas que apresentam baixo pirateamento, voltados ao público adulto contemporâneo, como Maria Rita". Nesse contexto, adeus duplas sertanejas! "Uma dupla nova, iria custar muito caro pra gravadora lançar e fazer estourar na mídia, deixa de ser bom negócio, ela será campeã de disco pirata".

Boa, a conversa. Mas o show tem que continuar. Ou melhor, começar. Guilherme vai ao hotel se vestir. E o fã-repórter vai para casa transcrever as fitas do papo. Solitário e solidário, o artista vai defendendo sua arte e sua integridade humanista, ao alcance do respeitável público sobrevivente na selva.

12 de out. de 2010

Crianças


Depois de uma certa idade, a gente se vê cercado de crianças por todos os lados. No caso deste que vos escreve, até que o cerco começou cedo.

Não, não tive filhos ainda. É que comecei a desenhar com quinze anos, trabalhando para um jornal. Ilustrava um suplemento infantil. De vez em quando, aparecia um bando de crianças, levada por professores, para visitar a redação. Eu, mais criança ainda, desenhava coelhinhos e demais espécimes animais para a criançada de plantão.

Anos depois, já devidamente chutado do jornal, e fazendo caricaturas num evento, topei com uma dessas crianças no estande em que eu estava. Não mais criança, é claro, mas veio me dizer que foi uma das visitantes que ganhou um coelho rabiscado daquela época. Abracei o cara, agradecendo pela lembrança.

Mais uns meses, e fui chamado pra fazer caricaturas numa multinacional, adivinha por quem: pelo ex-garoto, agora trabalhando na empresa.

Hoje, se não tenho crianças de própria criação me cercando, tento recuperar algo desse espírito lúdico, que muitas vezes não deixa de ser espírito de porco, ao lado dos filhos de amigos. E dos dois sobrinhos, especialistas em me fazer sorrir nas horas mais impróprias. Ou próprias, já que eles me fazer perceber que não existe sorriso impróprio.

6 de out. de 2010

O alívio dos bolhas

Assim como a cachaça faz as vezes de divã dos mais necessitados, o plástico-bolha faz as vezes de calmante dos pobres de marré-de-si. Ou dos mais necessitados, que seja.

Se a cachaça tem um efeito relaxante mas faz seu consumidor deixar aflorar uma emoção nunca dantes conhecida, a ponto de fazer o cidadão declarar amor desmedido pelos amigos e demais seres humanos dispostos a contê-lo, o plástico-bolha só faz seu usuário relaxar, sem danos morais a quem o cerca.

No contato com as bolinhas de ar prestes a serem espremidas, feito cravos rebeldes de adolescentes idem, o cidadão estressado da labuta diária que inclui brigas no trânsito, brigas com o chefe no trabalho, brigas com o cachorro, os filhos e a mulher no dulcíssimo lar, realiza uma eficiente sessão de relaxamento.

Se a função original do plástico-bolha por décadas a fio continua sendo a de embalar produtos mais frágeis que um cachorro poodle perdido numa tempestade, cabe aos milhões de usuários do plástico expressarem gratidão aos seus inventores: deixando-se embalar pelo alívio que a explosão das bolinhas traz aos consumidores.

Mas, como nem tudo na vida é alívio, o plástico-bolha, assim como a cachaça supracitada, pode produzir dependência. Portanto, trate de explodir as bolinhas com moderação. As bolinhas do plástico, seu bolha.

28 de set. de 2010

Caricaturas na Caixa




Na última sexta-feira, 24 de setembro, estive na inauguração da nova agência da Caixa Econômica Federal em Piracicaba, a agência Noiva da Colina.

Além dos discursos de praxe, da música ao vivo e do buffet aos convidados, duas atrações completaram a noite. Uma, a exposição de trabalhos premiados no Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Outra, a performance de caricaturas ao vivo deste cartunista.

Acima, algumas fotos do evento.

20 de set. de 2010

Deodato e Gershwin

O músico, produtor e arranjador Eumir Deodato é o retratado da caricatura ao lado, feita por este blogueiro.

Carioca de fama internacional, ele fez rara aparição em Piracicaba há duas semanas, para um workshop e um show.

11 de set. de 2010

Social do Salão de Humor

As fotos desta postagem foram feitas na abertura do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, no último sábado de agosto, na nossa sessão de caricaturas ao vivo. Desenhei o público junto com meu irmão Fábio e o colega Amauri Ribeiro.

Na foto acima, sou o barbudo, canhoto e calvo de camisa verde: tão caricatural quanto as pessoas que eu desenharia naquela noite. Ou mais.


Na foto acima, o Fábio, de blusa vermelha, já estava com a gente.

O interessante da caricatura ao vivo é a resposta imediatamente positiva do público ao nosso trabalho. Mesmo que esse trabalho se assemelhe a colocar um espelho quebrado diante do rosto de cada pessoa. Mas os dois lados se divertem, e ainda bem.

As fotos desta postagem saíram do perfil do Salão de Humor de Piracicaba no Orkut. O caricaturista que vos fala agradece desde já.

Mas as caricaturas ao vivo no Salão de Humor continuarão. Confira dias e horários aqui.

3 de set. de 2010

Cadê os desenhos no blog?

Boa pergunta.

Tenho trabalhado mais com caricaturas ao vivo. No momento, estou fazendo isso no Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

As caricaturas ao vivo estão programadas nos sábados, domingos e feriados até 17 de outubro, em Piracicaba:

2 às 5 da tarde: Caricaturas no estande da CCR AutoBan - Armazém 09 (ao lado do Armazém 14) - Engenho Central

As tiras e outros desenhos voltam ao blog assim que acabar essa maratona de caricaturas. Por enquanto, vocês podem se divertir aqui e aqui.

27 de ago. de 2010

Dicas sem jabá

Quem sou eu para dizer o que vocês podem ler ou ouvir? Ora, eu sou um cara de pau que gostaria de lhes dar dicas do que se possa ler ou ouvir.

Feito este breve intróito, vamos ao que importa: as dicas. Quem quiser ir antes a um dicionário, para saber o que significa "intróito", fique à vontade.

Onde está o amor? (Nico Nicolaiewsky) - Não espere encontrar no CD solo de Nico o maestro Plestkaya da dupla Tangos & Tragédias. Nesse CD, o humor não dá as caras, começando pelo canto "normal" do titular da obra. O trabalho é um apanhado de canções tocadas e arranjadas no formato mais pop possível, sob a batuta de John Ulhoa, cérebro da banda Pato Fu. Se o título contém uma pergunta complicada, a resposta pode estar nas letras das músicas. Ou no coração de cada ouvinte? Vai saber.

Livro aberto - Páginas soltas ao longo do tempo (Fernando Sabino - ed. Record) - Morto em 2005, o mineiro que começou na literatura como menino-prodígio em sua Belo Horizonte natal, encerrou sua trajetória desacreditado, após a publicação de uma biografia da ex-ministra da fazenda de Collor, Zélia Cardoso de Mello. Massacrado pela imprensa após ver o livro virar best-seller, o escritor recolheu-se a seu apartamento para compilar material de uma vida inteira, que não tinha sido aproveitado em obras anteriores.

Livro aberto é um tijolaço, algo raro em se tratando do autor, sempre amigo dos formatos enxutos e mais baratos para seus livros. A coletânea é um passeio pelo tempo, englobando contos, crônicas, perfis e resenhas dos anos 30 até a década de 90 do último século. Fernando Sabino é um marco na minha vida de leitor. Como muitos, nunca entendi a casca de banana que ele próprio se atirou, ao cometer a biografia de Zélia. Mas antes isso do que não tê-lo mais entre nós. Certas ausências são irreparáveis.

19 de ago. de 2010

Pelé e Neymar

Meu pai é da geração que viu Pelé jogar. Por causa dele, torço pro Santos. Por causa do meu pai, não do Pelé, embora o maior jogador do século passado seja um motivo mais que justificado para se torcer para qualquer time.

Como dizia, por causa do meu pai, torço pro Santos. Conheço o Pelé apenas das aparições televisivas pós-encerramento da carreira, das entrevistas nas quais ele se refere ao Pelé usando a terceira pessoa, tal qual uma entidade separada do Edson, seu verdadeiro nome. Entende? Eu nunca entendi.

Impossível ficar indiferente ao Pelé. Vi quase duas horas de lances e gols pra lá de magníficos naquele documentário de Aníbal Massaini, Pelé Eterno. O tal jogador que tanto se diz e se propaga já em estágio de lenda, quiçá divindade, realmente existiu. E aqui cabe o advérbio de modo. Cai bem um Rei do Futebol falar "realmente".

Agora que o Internacional de Porto Alegre ganhou o bicampeonato da Taça Libertadores da América, coube ao Pelé nos deixar estupefatos uma vez mais. Ele cometeu a proeza de envergar um uniforme com a cor do Inter: vermelho! Reis costumam ter lá suas doses de excentricidade, mas elas sempre chocam os cidadãos que andam abaixo de qualquer pedestal. A maior esquisitice de Pelé é cantar, compor e tocar violão. Dos males, o menor: deixa ele se vestir da cor que quiser, contanto que não se meta a cantor perto da torcida, qualquer uma.

Com Pelé para abençoar a Vila Belmiro, sempre que pode comparecer aos jogos do Santos, o time acaba de ganhar mais uma alegria: a permanência de Neymar, o garoto-prodígio. Assediado pelo time inglês Chelsea, o jogador resolveu ficar no Brasil, mediante um plano de carreira e um contrato de cinco anos com o time santista. É um fato que ajuda a torcida a esquecer a ausência de Robinho, outro garoto que impressionou a torcida da Vila.

Outra coisa para se impressionar é a minha súbita autoridade para comentar futebol, em cima do lance. Mas tudo bem: o Pelé jogou bola como ninguém e também nunca foi um bom comentarista do esporte bretão. Se derem um microfone a meu pai, periga dele falar melhor de futebol que o próprio Rei.

Caricaturas de Salão

Em 2010, estarei marcando presença no Salão Internacional de Humor de Piracicaba de duas maneiras: ao vivo e na mostra principal.

Ao vivo, estarei em todos os fins de semana durante o Salão, no Engenho Central, de agosto a outubro, fazendo caricaturas para o respeitável público visitante.

As caricaturas serão feitas em dois ambientes, em diferentes horários: primeiro no espaço da mostra principal com o Jornal Caricaras, e em seguida no estande da CCR AutoBan, uma das apoiadoras do Salão neste ano.

Na mostra principal, estarei com trabalho selecionado na categoria Tiras.

A programação deste ano do Salão de Humor inclui, além da tradicional mostra principal, várias mostras paralelas de primeiríssima qualidade. Ziraldo, Spacca, Ronaldo Cunha Dias e Willian Hussar estão entre os artistas convidados.

A gente se encontra em Piracicaba. Combinado?

4 de ago. de 2010

Xeque-mate?

No final do mês, estarei em um encontro de xadrez. Não para jogar, mas para fazer caricaturas ao vivo durante os jogos. Segue o flyer do evento ao lado. Para ver melhor, clique na imagem.

Já tive contato com esse jogo como espectador, há uma dezena de anos. Foi num campeonato promovido por um colégio particular de Piracicaba, num clube. Eu fazia texto e diagramação de um jornal institucional do tal colégio.

Aos meus olhos de repórter de ocasião, era espantoso o silêncio que se fazia durante as partidas. Sem falar nos lances repentinos disparados pelos competidores, que podiam decidir uma partida em segundos.

Agora, o xadrez volta ao meu cotidiano por um dia, trazendo de brinde o craque Mequinho, que eu conhecia apenas da música "Super-Heróis", do Raul Seixas e do Paulo Coelho.

Vai ser divertido.

30 de jul. de 2010

Animais!

O texto a seguir saiu numa página de humor que eu editava no jornal Tribuna Piracicabana, de 2001 a 2003. Outros textos dessa época você confere no Releituras, um site-referência da literatura no Brasil, editado por meu amigo Arnaldo Nogueira Jr.

O elefante e o rinoceronte não se bicavam.

O elefante achava que seu grito, "fuóóóóó", existia para alertar os bichos de injustiças, desmandos, falta de ética e outros penduricalhos que servem pra gente dizer que está revoltado.

O rinoceronte, pelo contrário, achava que sua simples presença servia para mostrar aos bichos quem é que mandava naquela birosca, que esse negócio de injustiças e desmandos e falta de ética era denúncia vazia, talvez coisa daqueles passarinhos caga-sebo — ou caga-regras? — , doidos para ver o circo pegar fogo, uma palhaçada.

Vendo que a coisa iria degringolar e alguns bichos inocentes pagariam pela animosidade da paquidérmica dupla brigona, o tucano resolveu chamá-los para uma prosa conciliatória. Disse que os senhores elefante e rinoceronte poderiam decidir suas diferenças à vista de todos os "habitantos" da floresta. Que não valeria soco abaixo da linha da cintura, que resolvessem a contenda, pois estava em jogo o equilíbrio ecológico do mundo e outros patatis-patatás de uma conversa do gênero. Bom diplomata que era, o tucano ficou aliviado e espalhou a boa nova ao respeitável público.

Quando chegou o grande dia da batalha entre o elefante-ofegante e o rinoceronte-mastodonte, a floresta mobilizou-se para o espetáculo. Uns apostavam no ofegante, outros no mastodonte, os mais velhos olhavam aquilo com tédio, as macacas de auditório gritavam como nunca.

Preparados os competidores, o tucano deu o tiro que matou a ansiedade da platéia e iniciou o embate. Um urro se ouviu, o elefante achou que o tiro do tucano tinha saído pela culatra, e estava certo. O leão, que dormia, acordou danado da vida com o barulho e acabou com a festa. E foi aí que os dois competidores caíram na real... ou melhor, viram quem é que era o legítimo, o verdadeiro, o autêntico rei da cocada preta.

(A)moral: quem tem o rei na barriga sempre perde a majestade

5 de jul. de 2010

Professores e alunos do humor

Em 2011, completo vinte anos de carreira. E o Salão de Humor de Piracicaba é uma lembrança permanente desde os anos 80.

Minhas primeiras visitas ao evento aconteceram ainda no Teatro Municipal. Numa delas, vi pela primeira vez um exemplar do Pasquim, em sua versão paulistana. Na mostra principal, nomes como Luigi Rocco e Ronaldo Cunha Dias estavam todo ano entre os cartunistas selecionados. O primeiro, aliás, se casaria com uma piracicabana. Essa cidade tem visgo mesmo.

De 1989 pra cá, fui alimentando o desejo de virar cartunista. No mesmo ano, fui aluno da Oficina de Quadrinhos de Jal e Gual, organizadores do Troféu HQMix. Em 1991, virei profissional da área. Depois, o namoro com o evento aumentou.

O entrosamento com outros cartunistas na cidade gerou mostras paralelas no Salão, de um grupo chamado Pamonhas de Piracicaba. O nome, depois rechaçado por um ou outro membro mais mal-humorado do grupo, só confirmou o óbvio: pamonha de casa não faz milagre.

Após ser selecionado algumas vezes para a mostra principal, ser jurado de seleção e organizar uma mostra de tiras feitas pelos ex-Pamonhas, o Salão de Humor me deu a chance de dar aulas de humor gráfico para professores das redes municipal e estadual de ensino de Piracicaba. Esse conhecimento está sendo repassado aos alunos para que participem do Salãozinho de Humor, uma versão infanto-juvenil do evento, já na oitava edição.

Na oficina, ministrada junto à artista plástica e arte-educadora Belê, as professoras-alunas demostraram uma vontade imensa de absorver e interagir com a linguagem do humor.

É um desafio, para as alunas e para os professores, destrinchar, feito um frango caipira, os mistérios do humor em cartum, charge, caricatura e tira. Mas a teoria harmonizou-se com a prática, gerando exercícios de criação muito interesantes. E engraçados!

O que era um aprendizado informal do humor, por meio do contato anual com o Salão, torna-se um aprendizado sistemático, por meio das oficinas agora promovidas com frequência pelo próprio evento, para crianças e adultos.

A satisfação de ser escolhido para repassar esse conhecimento, como cartunista "formado" pelo Salão, não poderia ser maior. Que o riso continue forte e saudável, entre as novas e as velhas gerações.

3 de jul. de 2010

A mulher que eu amo (ou amava?)

Eu admiro a coragem do Roberto Carlos. Ia dizer que aprecio a cara de pau dele, mas não é essa a expressão. É "coragem" mesmo.

Pra começar, ele sobreviveu a cinquenta anos de carreira. Popstar que se preze ou morre no meio do caminho e vira mito - vide Michael Jackson, Elvis Presley e Paulo Sérgio - ou sobrevive à roda-viva, envelhecendo em público sem pudor das rugas da voz e da alma. Roberto, desnecessário dizer, escolheu a segunda alternativa.

Que coragem!

Antes de ser Jovem Guarda, nosso Rei tentou ser Bossa Nova, sendo imediatamente rejeitado pelos mauricinhos da Zona Sul carioca. Até gravou aquele disco "Louco por você", uma salada de sub-bossas, quase-rocks e anti-versões. O cantor considera sua estréia em LP ruim por um detalhe pequeno: a desafinação numa das faixas. E engavetou o vinilzão.

Mais coragem pro currículo.

Depois do sucesso da Jovem Guarda, onde enfiava ouvidos abaixo das menininhas o acompanhamento vagabundo daquele órgão pilotado por Lafayette, dando aos seus rocks e baladas uma vestimenta de música de igreja no domingo, o cantor virou adulto.

Rasgando a voz, feito um sub-negão da Motown, resolveu incorporar suíngue à sua música, na trilha da moda dos nascentes anos 70. Isso antes de virar um romântico incorrigível e duradouro, com pitadas de fé explícita, bem antes dos padres-cantores gravarem seus discos.

Haja coragem!

E coragem é o que me motivou a escrever algumas linhas sobre a mais nova canção de Roberto Carlos, divulgada na novela das nove da Globo, Viver a Vida.

A canção se chama "A mulher que eu amo", de autoria somente do cantor. A música saiu no CD da trilha sonora da novela, foi liberada para download pago em alguns sites e ganhou as avenidas da web.

Percorri as tais avenidas e conheci "A mulher que eu amo". Conheci a música, não a mulher da música.

Como os fãs de Roberto Carlos devem saber, a mulher que a tal letra descreve e exalta só pode ser a falecida esposa dele. É sabido que o cantor tem composto exaltações sem fim à finada, e que reforçou esse sentimento para além da arte, nas entrevistas concedidas após o trágico desenlace.

E a canção só reforça a minha opinião sobre a coragem de Roberto Carlos. Exaltar uma mulher falecida usando verbos no presente não é pra qualquer um. Como também não deve ser fácil ser Roberto Carlos em tempo integral. Mas isso vocês já sabiam.

De qualquer forma, o Rei ainda não perdeu a majestade. E a coragem.

29 de jun. de 2010

De Pires na mão

Moro em Piracicaba, a terra do rio cantado por Tião Carreiro.

Tendo nascido na cidade, e conhecendo o que rola na margem direita e na margem esquerda do tal rio, tenho uma relação discutível com a terrinha. Principalmente quando quero discutir a relação.

Nas vezes em que estou em paz com a terra-mãe, vou atrás das minhas raízes, mesmo que para isso eu ande quilômetros de distância. Como bom caipira, gosto de inventar moda. Se eu fosse músico, seria moda de viola. Como sou cartunista, fico nas piadas de caipira. Às vezes sou a vítima das piadas.

Há quatro anos, reatei uma amizade com sotaque dos anos 90. Liguei para o amigo, morador da capital paulista, e lá fui eu bater um papo com ele. Entre papos, cervejas e sanduíches, ele me contou que ouvia a rádio Cultura ao nascer do sol, todo santo dia. E no raiar da programação da rádio, havia um espaço para os causos de Cornélio Pires, humorista e folclorista de Tietê (a cidade, não o rio).

No cafezinho após o banquete, o amigo me confessou a vontade de traduzir a obra de Cornélio Pires, legítimo desbravador da cultura caipira do começo do século vinte, para os quadrinhos. E coloquei mais lenha na fogueira, sugerindo que fizéssemos o trabalho em parceria.

Animado com a perspectiva do trampo em conjunto, voltei a Piracicaba. Um mês ou dois depois, a animação aumentou.

Uma palestra sobre Cornélio Pires abriria a semana dedicada a ele, realizada todo ano em Tietê. Só que, numa exceção honrosa, a palestra seria em Piracicaba, no Sesc local.

Chegando ao auditório, encontrei o secretário de cultura de Tietê, Pedro Macerani, acompanhado do historiador Benedito Pedro Silvestrim, mais conhecido como Fuzilo, uma autoridade em Cornélio.

O secretário exibiu dois filmes realizados pelo pioneiro da gravação de músicas caipiras. Dois curta-metragens da década de 20: um mudo, outro sonoro.

O segundo filme trazia a primeira gravação, em áúdio e imagem, da dupla Mandi e Sorocabinha, realizada antes mesmo da primeira gravação de disco caipira, também feita por Cornélio Pires. O primeiro videoclipe sertanejo!

O historiador trouxe uma palestra toda planejada e escrita com esmero de detalhes. Ao chegar no Sesc, ficou sabendo que não iria falar sozinho, tendo sua fala reduzida às suas intervenções num debate após a exibição dos filmes.

Mas o "seu" Fuzilo deixou a maior surpresa para o final da noite. Ele saíra do hospital direito para a palestra, pois sofrera um ataque do coração há pouco tempo.

Mais um tempinho, e o meu coração também sofreu certo abalo. Mas de alegria, quando pisei em Tietê, a terra de Cornélio, onde há um museu dedicado à vida e obra do caipira pioneiro.

Sem eira nem beira, desci na rodoviária da cidade e perguntei pelo tal museu. Tietê estava às moscas, ou nem isso, as moscas pareciam estar de folga. E tinham razão, pois era feriado municipal...

Como o leitor da capital deve saber, espaços culturais em cidades do interior costumam fechar em feriados. Se até o leitor sabe, daria sorte: eu não sabia.

E fui ao centro de Tietê, a quatro ou cinco passos da rodoviária, procurar mais sobre a cidade e o museu de Cornélio Pires.

Numa banca de revistas, ao saberem do meu projeto de quadrinhos sobre o símbolo da cidade, me deram o telefone do "Seu" Fuzilo, o simpático historiador citado linhas atrás. Acabei não indo, para não perturbar o descanso do recém-enfartado em pleno feriado.

Antes tivesse ido. Pouco depois da minha visita a Tietê, "Seu" Fuzilo descansaria para todo o sempre.

Mas teve um "porém", que isso sempre tem. O dono da banca, um dentista, me levou à sua casa a minutos dali, e me presenteou com vários livros de Cornélio Pires. Isso porque ele nunca tinha me visto na vida.

Voltei a Piracicaba sem visitar o museu em Tietê e sem ter voltado a ver o velho Fuzilo. O desejo de revisitar o velho Pires em quadrinhos, junto ao meu compadre em São Paulo, permanece.

Um dia desses a gente volta a tomar um café e retoma esse desejo. E o realiza.

7 de jun. de 2010

Salões de Humor de Piracicaba

Piracicaba e seus salões de humor começam a dar as caras.

O Salão Universitário de Humor, promovido pela Unimep desde 1992, abre na próxima sexta-feira.

Nesta segunda-feira, foram escolhidos os trabalhos da mostra. O dono deste blog participou do júri de seleção.

Já o Salão Internacional de Humor de Piracicaba, em sua edição de número 37, está com inscrições abertas para o envio de cartuns, charges, caricaturas e tiras.

O Salãozinho de Humor, versão paralela do evento para crianças, também abriu inscrições.

Durante o mês de junho, uma oficina estará ensinando humor gráfico a professores das redes municipal e estadual de ensino da cidade.

Sou um dos orientadores da atividade, ao lado da artista plástica Elisângela Mathias.

Os professores repassarão o conhecimento adquirido na oficina aos alunos, para que participem do Salãozinho.

A temporada do humor em Piracicaba está apenas começando. Mais novidades em breve.

3 de jun. de 2010

Um baita de um filho da mãe

Na véspera do último Dia das Mães, em 8 de maio, corri o risco de ser chamado de filho... da mãe.

O cenário era São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Fui chamado a desenhar caricaturas ao vivo para os clientes da loja C&C.

O risco de ser xingado era grande. Mas o povo que ganhou as caricaturas feitas na hora curtiu o presente. E me deixou correr riscos apenas no papel.

Outras peripécias caricaturescas você confere aqui.

25 de mai. de 2010

Futebol de Salão


Bem poderia ser esse o nome da exposição organizada pelo Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Mas não é. O nome é apenas Futebol.

A mostra reúne cartunistas e artistas plásticos de Piracicaba. Todos fazendo trabalho com o tema acima. Vai ter artistas dente de leite, cartunistas com anos de bola no pé, até artistas plásticos a um passo de pendurar as chuteiras.

A exposição Futebol abre na próxima quinta-feira, às 8 da noite, no Engenho Central, em Piracicaba, com coquetel e tudo. Os leitores do blog estão convidados.

13 de mai. de 2010

No dia 13 de maio...

...130 tiras de um personagem afrobrasileiro (é assim que se diz?).

12 de mai. de 2010

Torcedor é tudo igual

Apesar de ser mais uma voz discordante da escalação da Seleção do Dunga, sou da paz.

Não é o que acontece nas caixas de comentários dos blogs. Principalmente as dos blogs de televisão, onde analfabetos funcionais se estapeiam para discordar do colunista da vez.

Descobri um novo tipo de torcedor. O torcedor de celebridades. Uma espécie que quer torcer o pescoço de quem falar mal da sua celebridade favorita. E com um português de fazer inveja a qualquer torcedor de time grande.

6 de mai. de 2010

Eu pago minhas contas com café

Ontem, recebi um e-mail tentador.

Uma fábrica de café da região de Piracicaba está promovendo um "concurso cultural".

Ilustradores, designers e publicitários podem enviar um logotipo especial para o aniversário da marca. O prêmio ao ganhador? Uma máquina de café. Com café para abastecê-la durante seis meses.

Sou grande consumidor de café. Mas isso não me fará largar minha profissão de ilustrador, cartunista e designer para me tornar revendedor de café.

(Se o concurso fosse de refrigerante, talvez eu pensasse no caso. Tem uma escola bem na frente da minha casa...)

5 de mai. de 2010

Um Glauco a mais nunca é demais

Os cartunistas de Santos, ao lado de colegas do interior e da capital paulista, estão homenageando Glauco na exposição "De Dona Marta a Geraldão - o legado de Glauco".

A mostra tem vinte desenhos, entre charges, ilustrações, tiras e caricaturas. Será na Gibiteca Municipal de Santos. Abre no próximo sábado, às quatro da tarde, e vai até 10 de junho.

Quem puder ir, está convidado. Meu desenho da mostra está ao lado. Para vê-lo maior, é só clicar na imagem.

30 de abr. de 2010

Não vou falar do Homem de Ferro

Vou falar, sim, da saúde de ferro dos velhinhos que precisam de remédio dado pelo governo.

Segunda-feira é um belo dia. Estimulante. Um marco da semana, de qualquer semana. Estímulo era o que eu precisava. Para encarar uma fila imprevisível no posto onde se busca o remédio.

O sol da última segunda-feira estava cumprindo seu papel com fervor. Na farmácia, umas cem pessoas aguardavam a vez de pegar seu remédio. Cem pessoas antes de mim, é claro. Todas resignadas com a falta de sorte, ou de dinheiro, que as fazia encarar aquele lugar uma vez ao mês.

Três horas e infinitos cafés depois, fui atendido por um funcionário pra lá de antipático, que deixou toda a simpatia pra lá. Peguei o remédio da minha mãe e tomei o caminho de volta pra casa. Na farmácia, dezenas de velhinhos, seus filhos e netos, ainda aguardavam a vez.

Se os velhinhos ainda tem saúde suficiente para esperar tanto tempo por um remédio, eu é que venho perdendo a minha saúde a cada vez que piso naquela farmácia. Pela cara de tacho dos funcionários, pelas horas de trabalho perdidas, pelos cafés pagos e enfiados goela abaixo, pela segunda-feira jogada no lixo. Mas mês que vem tem mais.

Pelo jeito, o verdadeiro Homem de Ferro é o aposentado brasileiro.

25 de abr. de 2010

Uma notícia que vai mudar a sua vida

A nova Miss São Paulo, eleita neste sábado, é de Piracicaba.

Estou emocionado. E, por que não dizer, realizado. É um reconhecimento a Piracicaba, que tem coisas boas. Aliás, tem coisas e tem boas também.

Quem falar agora que os piracicabanos são pamonhas, vai levar uma voadora com sotaque e tudo. Não por causa da nova Miss São Paulo. Mas porque eu não aguento mais ouvir piada velha. E ruim.

23 de abr. de 2010

Maria Alcina e Adoniran: bela tabelinha

Começo de abril, e escuto de um amigo: "Você só gosta de coisas de velho!". Após o julgamento sumário, sem defesa e sem perdão, fiquei com uma vontade doida de sacar uma bengala para acertar a cabeça do muy amigo.

Pensei nisso, ainda com certo ódio no coração, quando papeava com um amigo mais recente. Quase um mês depois, e os dois estávamos na entrada do novo show de Maria Alcina, de passagem por Piracicaba, no Sesi local.

Esse amigo recente não sabia que o maior sucesso da cantora foi uma canção de Jorge Benjor antes de ser Benjor: Fio maravilha. Ignorava que ela tinha sido jurada no programa do Raul Gil. E tampouco sabia que seu último sucesso foi a antológica Prenda o Tadeu.

Meio desanimado por ser um dinossauro precoce, tomei meu assento no respeitável público, quase todo ele ultrapassando os quarenta anos. Pra piorar minha reputação, o espetáculo trazia o repertório de outro master, Adoniran Barbosa, numa homenagem ao seu centenário.

Saudosa Maloca e Trem das Onze, canções entoadas há décadas pelos Demônios da Garoa, fazem o público pensar que a obra de Adoniran resume-se a isso mesmo: a dois lamentos de fim de noite pra velhinhos bêbados cantarem em uníssono desafinado.

Mas o show mostrou o contrário, fazendo o favor de calar a minha boca rabugenta. E Maria Alcina, nada rabugenta, abriu a dela no palco, junto à bateria de Gustavo Souza e o violão de Sérgio Arara, este o diretor musical do show.

A artista distribuiu à platéia fartas doses de energia e senso de humor, presentes no gestual exagerado, na voz de trovão e na presença cênica vital. A Carmen Miranda reencarnada só valorizou a obra tão peculiar de Adoniran Barbosa.

O set list trouxe uma geral de Adoniran, entre o romântico e a tragicômico, num dialeto ítalo-caipira. As músicas "assinadas" por Peteleco, mascote vira-lata do compositor, mereceram um segmento à parte. As mais conhecidas, citadas linhas atrás, abriram e fecharam a noite.

Maria Alcina vestiu figurinos diferentes nas duas partes do espetáculo, costurando-as. Na primeira parte, exibiu um arranjo de cabelos à la Brazilian Bombshell junto à malha colante preta e à camisa zebrada. Na segunda parte, a intérprete encarnou um legítimo pierrô bufante.

Uma ou outra canção foram vestidas de efeitos sonoros eletrônicos, arriscando desagradar aos defensores de um Adoniran mais "chorado". Só que não notei lágrimas rolando nas cadeiras. Todo mundo mexia, sim, mas nas próprias cadeiras, dançando sem parar. E dançariam mais no pedido de bis.

Numa dessas coincidências felizes, em pleno dia de São Jorge a platéia sambou ao som do primeiro sucesso de Maria Alcina, justamente o "Fio Maravilha", jogador perna de pau eternizado apenas na música de Benjor. Já Maria Alcina ainda bate um bolão. Não em futebol, mas em arte. Que não tem idade.

11 de abr. de 2010

Benito Di Paula é o máximo!


Além da minha homenagem ao cantor, compositor e pianista na caricatura logo acima, deixo o link de uma ótima entrevista com Benito Di Paula feita por Bruno Ribeiro.

Esse depoimento de Benito ao Bruno só confirma o óbvio ululante: artista também é gente, viu gente? Seja ele popular, erudito, brega ou marciano.

10 de abr. de 2010

Há quarenta anos, Paul bancou o estraga-prazeres....

... e acabou com os Beatles, aquela simpática banda de Liverpool que todo o mundo amava.

Não há ser humano razoavelmente informado em todos os países razoáveis que ignore a existência de Paul McCartney, John Lennon, George Harrison e Ringo Starr. E não há ser humano razoavelmente idoso que não tenha lamentado a dissolução do grupo.

Hoje os integrantes do conjunto (vivos, mortos ou muito vivos) são discos reeditados de tempos em tempos, livros que alimentam os mitos e livros que os descontroem, otários que não detém seu catálogo de canções e o perderam para outra lenda (Michael Jackson, você sabe), até videogames.

Todo o mundo está inundando a internet com depoimentos e reportagens sobre o quarteto fantástico. Como este blog às vezes segue a maré para não se afogar nela, segue abaixo um testemunho pessoal.

Os Beatles entraram na minha vida numa fita cassete, há uns vinte e poucos anos, lá na idade das pirâmides. Ou melhor: em duas fitas. Uma era do disco Help!. A outra, a coletânea 20 Greatest Hits. Curti a música básica e brincalhona da primeira fita. Fiquei besta com a evolução musical do grupo nas fases cobertas pela coletânea.

Com o tempo, fui ouvindo os outros discos, agora em CDs. Finalmente, no ano passado, comprei a maioria dos novos CDs remasterizados. Nas novas audições, passei a ter mais apreço pelo Álbum Branco (com as esquisitices de John & Yoko e tudo) e o Abbey Road.

As aventuras-solo dos Beatles passaram pelos meus ouvidos, idem. O disco Ringo, de 1973, é adorável. De George Harrison, mora no meu coração o insuperável All Things Must Pass. De Paul, a coletânea All The Best!. De John, o álbum Rock´N´Roll.

Se você ainda quer saber melhor quem foram esses tais de Beatles, há a "biografia definitiva" feita por Bob Spitz. Anthology, em CDs e DVDs, é a "biografia definitiva" na visão dos componentes do grupo.

Por coincidência - ou não? - estas linhas terminam ao som de "Because", uma das faixas mais emocionantes do último disco dos Fab Four. O fim que era apenas o começo. De uma lenda.

(Falei bonito, hein? Clichê total, mas bonito).