31 de dez. de 2011

Sem Daniel Piza

Estou tentando absorver o impacto de uma ausência inesperada. Do jornalista Daniel Piza.

O sentimento de perplexidade é o mesmo que tive quando Zé Rodrix faleceu. Zé faleceu aos 61 anos, Piza se foi aos 41. Mortes prematuras.

Eu era leitor fiel do jornalista desde sua atuação como editor do caderno cultural da Gazeta Mercantil, no final da década de 90.

Anos depois, passei a acompanhá-lo na coluna semanal Sinopse, no jornal O Estado de S. Paulo. Por fim, incorporei aos meus hábitos diários a leitura do blog no portal do Estadão.

Na minha memória afetiva de leitor de jornais, a meia página de Piza no Estadão era uma continuação sem excessos do colunismo de Paulo Francis. O jornalista do "Diário da Corte", alíás, mereceu um perfil do seguidor, na coleção Perfis do Rio, da editora Relume Dumará.

Cheguei a me corresponder brevemente com Piza. Mandei alguns exemplares de um jornal de humor editado por mim, dele recebendo uma resposta gentil e incentivadora.

Todos os clichês aplicados a uma perda precoce como essa são válidos. Clichês que Daniel Piza sempre evitou, ao recordar a trajetória de pessoas relevantes que se foram.

30 de dez. de 2011

M de Música, C de Caricatura

Nos primeiros anos do século 21, participei da primeira rede social-virtual da minha existência.

Na pré-história da internet, a conexão discada ia e voltava quando queria.

Mesmo assim, músicos, jornalistas e fãs de música aderiram à lista de discussão M-Música.

Sendo apenas fã, restou-me função nada melodiosa: a criação de caricaturas do pessoal da lista.

Os desenhos ao lado, devidamente aprovados pelos m-musiqueiros, também contemplaram dois membros que já deixaram saudade: o compositor e músico Zé Rodrix e o jornalista Toninho Spessoto.

Ao Zé, ao Toninho e aos companheiros da lista M-Música, dedico esta postagem, como recordação dos dias felizes passados na pré-história da internet.

A única coisa a não deixar saudade foi a conta de telefone daqueles tempos idos. Bendita conexão discada.

27 de dez. de 2011

Caricaturas literárias, retratos nada literais

Os dois caricaturados à esquerda são Clarice Lispector e José Saramago.

Já falei da Clarice aqui. A caricatura dela é conceitual. Olhe o lado mais escuro do penteado dela.

De Saramago, nunca li nada. Sei que ele terminou seus dias numa ilha na Espanha. O cenário do desenho é aquela água.

Por ora, nada mais a declarar. Os dois declararam seus talentos ao mundo. O mundo dos seus leitores.

20 de dez. de 2011

Velhinhos e velhacos

Quem falar mal de Papai Noel, a essa altura do ano, corre sérios riscos de ser mordido por uma rena invocada. Ou levar um tapão da patroa do bom velhinho.

Já tive meus dias de transgressor natalino.

Adolescente puro e besta, com aquele fígado azedo típico dos adolescentes, ilustrava um suplemento infantil de um jornal. Um tempo diferente de fato. Jornais publicavam cadernos para crianças. Um deles empregava um adolescente puro e besta. Este que vos digita.

Só que eu não digitava nada. Desenhava o suplemento todo. Quadrinhos, passatempos. Tudo. As capas também.

Numa capa de Natal, baixou o espírito de porco, em vez do esperado espírito natalino. Um personagem questionava um velhinho descendo do céu: "O senhor é o Papai Noel? Eu não acredito em Papai Noel".

O velhinho, mais para pastor de ovelhas que para bom velhinho, respondeu placidamente: "Acredite na felicidade de uma nova era!"

No dia seguinte, choveram telefonemas na redação do jornal. A maioria de mães zelosas com a inocência natalina de seus filhos.

Hoje, até acredito em Papai Noel. Crer na figura do velhinho é melhor que a crença em velhacos que são umas figuras.

16 de dez. de 2011

Escrever é fácil, ser escritor são outros quinhentos

1. Pessoal briga com namorado ou namorada. Com marido ou mulher. Com irmão ou irmã. Pai ou mãe. Amigo ou amiga.

Aí, pra dar o famoso tapa com luva de pelica no interlocutor da discórdia, procura uma frase de escritor clássico. E posta nas redes sociais.

A atitude de "atitude" confere um verniz de importância à picuinha insignificante do dia a dia.

Belicosos de plantão, expressar sentimentos pra todo mundo ver, vez por outra, nos livra do infarto iminente. Mas copiem as frases direitinho, por favor. E confiram se as palavras definitivas do Verissimo, da Lispector ou do escritor da moda são deles mesmos.

Os amantes da literatura agradecem. Os amantes de plantão, tentem sossegar o facho. Ao menos nas redes sociais.


2. Você tem uma vocação literária.

Trabalha por ela. Deixa que ela comande sua vida. Atravessa as inquietações naturais da existência, amplificadas pela sua sensibilidade ímpar: essa que nunca lhe deixa em paz.

Passa ao largo das benesses da vida, usufruídas por quem não carrega o mundo nas costas, feito você, o escritor de plantão. Finalmente, se vai.

O tempo passa. Sua obra é "compartilhada", destroçada, deturpada e banalizada por uma multidão de iletrados que jamais lerá um livro inteiro seu. De preferência, os fragmentos da obra que mais se assemelhem a lições de moral, conselhos ao estilo autoajuda, frasezinhas de agendinha.

E ainda há quem queira ser escritor.

4 de dez. de 2011

Sócrates (1954 - 2011)


Há dois anos, eu estava suspirante na Avenida Paulista, em São Paulo.

Tinha feito na cidade tudo o que precisava, o que gostaria, o que não precisava. Uma pena danada ter que voltar à minha cidade em plena sexta à tarde. Resolvi ir ao Conjunto Nacional, na gigantesca Livraria Cultura, esperar o horário do último ônibus de volta.

Na Livraria, fui andar pelos andares todos. Após olhar todos os CDs e DVDs possíveis e imagináveis, fui ao andar do Teatro Eva Herz. Olhei uma placa, que anunciava a transmissão, naquele fim de tarde, de um programa de rádio chamado Fim de Expediente.

Uma vez ao mês, aquele teatro era utilizado pela rádio CBN para acomodar o público do programa, conduzido principalmente pelo ator Dan Stulbach.

Olhei a placa. Ela anunciava a distribuição gratuita de ingressos ao respeitável público dali a... cinco minutos! Sem piscar, me coloquei como um dos primeirões da fila. De graça, até programa de rádio na testa.

Na fila, após meia hora, puxei papo com um casal. Animado por estender um pouco minha estada paulistana, saquei de alguns jornais, onde desenho as pessoas nas capas, e comecei a caricaturar meus interlocutores.

Após as risadas e o agradecimento dos pombinhos pela cortesia inesperada, olhei para trás e presenciei outro ser improvável. O ex-jogador e atual médico, irmão do Raí, ex-craque da Seleção Brasileira de Futebol, estava com duas pessoas numa roda. Era ele... o doutor Sócrates!!

(Leia a crônica completa aqui)