29 de mar. de 2009

O teatro do Olivier

Imagine uma Cozinha Maravilhosa da Ofélia no teatro. Tirando a senhora quituteira e acrescentando um Fusca verde-oliva, é mais ou menos o que acontece no espetáculo Olivier Fusca e Fogão.

Olivier Aniquier é o cozinheiro francês que ganhou espaço na televisão como apresentador. Nunca vi uma performance sua na TV, mas vi seu talk show culinário no Teatro Municipal Dr. Losso Netto, em Piracicaba, a 170 quilômetros de São Paulo.

A performance começa com um telão, onde o público acompanha, com trilha sonora nordestina, o olhar de alguém visitando feiras, lugares e pessoas pitorescas do Brasil.

Alguns minutos depois, ainda no telão, o astro da peça aparece saindo de um fusca. Em seguida abre-se a cortina, e ele aparece no palco empurrando o carro. A cozinha vai sendo montada pelo próprio Olivier em pleno tablado. A idéia é fazer pratos fáceis para uma noite romântica a dois. Os casais são recrutados na platéia e orientados a fazer a comida na hora.

A agilidade e o carisma do apresentador garantem o sucesso da noite, principalmente entre o público feminino. Durante a peça, Olivier arrisca uns passos de samba e interage com o Fusca para garantir a ausência de "barrigas" entre um prato e outro.

Tive lá minhas ressalvas ao espetáculo. A principal é o recurso da interação com o Fusca, nomeado pelo protagonista como bom companheiro de andanças Brasil afora. Se Olivier fosse de fato um ator, saberia manejar esse recurso com mais competência e humor.

Outra ressalva fica no "falar pra dentro" do cozinheiro. No começo da peça, não entendi bulhufas do que ele falava. Com o tempo correndo, me acostumei e compreendi melhor as palavras do francês. Ele deve saber dessa dificuldade, pois ironizou o fato no palco.

A duração prolongada da função também incomodou. Duas horas vendo alguém cozinhar é cansativo. Vai ver, fiquei mordido por não ter saboreado um dos pratos divididos com a platéia.

Terminada a comilança, Olivier mostrou no telão a homenagem que um bloco de Carnaval fez a ele há dois anos, no Rio de Janeiro. Cortina fechada, boa parte do respeitável público saiu achando Olivier uma delícia. Não só no sentido gastronômico do termo.

27 de mar. de 2009

Proibidões

Um é o Rei, a outra é a Rainha.

O Rei vai fazer cinquenta anos de carreira. A Rainha está chegando perto dos cinquenta. De idade.

O futuro Rei começou querendo trilhar o tapete vermelho da bossa nova. Os arautos do papa João o elegeram bobo da corte. Jovem guarda da nascente música pop brasileira, proseguiu impávido. Até ser elevado a Rei da música popular verde-amarela.

A futura Rainha começou nada tímida, roçando o cetro de outro Rei, o do futebol. Adotada por um russo mancheteiro, a serva cresceu e apareceu. Até que uma tevê com ares imperiais deu um trono à loira nada burra.

Em comum, o Rei e a Rainha têm o gosto por atitudes excêntricas. E por novas atitudes que só confirmam a excentricidade das atitudes anteriores.

O Rei proibiu o acesso aos seus súditos ao seu primeiro álbum de canções, com sabor de bossa nova. Mas pôs nas lojas um álbum recente em que cantava... bossa nova.

A Rainha proibiu aos seus súditos o acesso a um filme em que tratava um garoto com todo o amor. Mas declarou a um programa de tevê que, de seu leito, costuma explodir em prazeres múltiplos.

Como súdito, eu me confundiria para atender a tais majestades. Deve ser mais fácil a carreira de bobo da corte.

Maria Rita e Moacyr Franco

Os amigos sabem da minha paixão por músicos em geral. Os leitores deste blog devem ter desconfiado.

Os chegados sabem que eu gosto de registrar essa paixão em artigos do tipo "olha com quem eu falei hoje". Johnny Alf é o exemplo mais recente.

Com a Maria Rita a conversa foi por e-mail. Na época, ela estava em plena turnê do primeiro CD. E tensa, por causa da expectativa do público e da imprensa.



O Moacyr Franco eu conheci pessoalmente. Ele vestido de Jeca Gay. Os dois, entrevistado e entrevistador, sem saber onde enfiar as respectivas caras.

Clique nas imagens para ampliar e ler os textos.

20 de mar. de 2009

Cruzes!

Ninguém acredita em braços cruzados. No tempo em que os sindicatos lutavam por salários maiores em vez de esmolar manutenção de empregos, a polícia metia cacetada nos trabalhadores. Pelo menos eles apanhavam de macacão. As cores escuras dos uniformes escondiam as manchas de sangue.

Sem macacão, os ex-grevistas empunham seus olhos de vidro e caras de pau em plena calçada. E continuam levando cacete da polícia. O que nos leva a pensar que bom mesmo deve ser trampar de policial. Sempre vai ter alguém pra levar porrada. Serviço para os trabalhadores de farda não falta.

Mais fácil acreditar em pernas cruzadas. As mulheres fizeram verdadeiras cruzadas contra sua transformação em mulheres-objeto pelos companheiros. Reivindicações mais que justas na maioria das vezes.

No entanto, como o ser humano sempre dá alguma mancada, sendo feminista ou feminino, não demorou para a falta de simancol derrubar a credibilidade de muitas militantes. Hoje, muitas querem apenas falar mal dos homens de um jeito cool. E serem fãs da Ana Carolina. De pernas cruzadas.

Ai do homem que insinuar vulgaridade nessa cruzada, a de pernas. Será vilipendiado e esculhambado até a centésima geração. Isso se ele não virar uma espécie em extinção. Porque não dá pra cruzar com mulher chata.

Pronto. Em poucos parágrafos, consegui mostrar meu lado retrógrado e machista. Embora parentes próximos me achem mesmo um aboiolado. Isso de trabalhar escrevendo e desenhando o dia todo, e em casa, não deve ser coisa de homem. Que cruz para carregar, meu Deus.

(Texto porco e desenho chauvinista: Érico San Juan)

18 de mar. de 2009

Mallu, chateando os chatos

O povo brasileiro, até prova em contrário, é um povo que adora dar palpite em tudo. Da vida do vizinho ao último discurso do presidente.

Um dos últimos assuntos em que o brasileiro médio resolveu meter seu espaçoso nariz foi a vida de Mallu Magalhães. Cantora e compositora surgida na internet, em pouco mais de um ano saltou do MySpace ao Domingão do Faustão.

Muitos se irritam com o jeitão desencanado-sonso da adolescente. Vários se chateiam com as opiniões imaturas da artista sobre casa, família, escola e ícones pop. Todos ficam de orelhas em pé com seu namorado Marcelo Camelo, também cantor e compositor.

Adolescentes costumam desempenhar o papel de párias sociais, num mundo nada preparado para acolher pessoas em transformação. E nem precisam ser transformações na sociedade, na família e em outras sagradas instituições. Bastam as transformações no corpo, na cabeça e na cara de cada vítima. Em Mallu não foi diferente. Aliás, não é.

Tão nova, coitada, Mallu desperta uma inveja danada. Sentimento que faz murchar flores, alegrias e almas. "Como pode? Alguém que nem terminou o ensino médio virar artista?", dirão os chatos de plantão. Mallu, para raiva dos olhares atiradores de faquinhas, provou que pode sim, ué!

O tempo dirá se Mallu Magalhães será uma artista legítima ou uma popstar mala. Palpiteiros não faltarão. Inclusive este que vos digita. Amém!

(Caricatura e texto: Érico San Juan)

16 de mar. de 2009

Depois da Dercy...

... mais um ser sui-generis bateu as botas: Clodovil.

Tudo bem que ainda temos o Paulo Maluf pra render nossas (cof! cof!) homenagens. Mas tem um porém.

Depois que o ex-prefeito, ex-governador e ex-candidato bater as botas (ou sapatos Vulcabrás), quem os humoristas irão sacanear? Um ex-BBB qualquer?

Assim não brinco mais, droga.

14 de mar. de 2009

Toscos e felizes

Tem ruindades que a gente aceita na boa. Não chego ao exagero de achar que tudo que é tosco é bom, mas certas ruindades têm lá seu charme, mesmo que essa virtude seja sempre questionável.

Como tenho muita simpatia pela chamada cultura de massa, vou me limitar ao relato de certas ruindades vindas dela.

Vejam o Tiririca, por exemplo. Antes do fim do século passado, quando cantores de sucesso ainda vendiam milhões de discos, o clone do falecido Zacarias fez um disco independente no Nordeste e foi descoberto por um desses produtores com grande tino comercial (ou olho gordo para sucessos, dependendo do ponto de vista).

Rapidamente, o ex-banguela lançou um CD com a inesquecível canção Florentina, um prodígio de concisão musical e agressão ao bom português (a língua, não o bigodudo dono do boteco da esquina).

Após seu sucesso efêmero, o palhaço estilo cirquinho de periferia emplacou uma carreira de humorista na televisão. Em suas performances, ri mais que o próprio espectador. Este, por sua vez, chora de saudade do Zacarias.

E o Roberto Justus? Não bastasse ele ser objeto de chacotas de noventa por cento dos humoristas nacionais, por causa da pose de bom moço somada à emoção de um manequim de vitrine, demitiu outros candidatos a bons moços e boas moças em plena arena televisiva, às vistas de uma seleta audiência. Provavelmente composta de ricos ou desempregados, dado o horário avançado do programa.

Dando sequência aos atos inusitados fora do seu ambiente normal de trabalho, o publicitário gravou um CD como cantor, somente com clássicos da música internacional. Para repartir o pagamento de tamanho mico, chamou Afonso Nigro, ex-integrante do grupo Dominó, famosa boy band dos anos 80. Ter sobrevivido às unhadas e gritos de adolescentes enlouquecidas já torna Afonso um especialista em tarefas ingratas, como a produção do mais bem cuidado CD de cantor de churrascaria da atualidade.

Justus é ousado, sem sombra de dúvida. Mas ter lançado o CD por uma gravadora multinacional deve ajudá-la a se aproximar cada vez mais da bancarrota.

Daria para listar muitos outros toscos. Pena que levantar essa lebre provoque discussões acirradas e surras homéricas entre facções rivais, feito um clássico Palmeiras versus Corinthians, com direito a Ronaldo se arrastando pelo campo. Por via das dúvidas, melhor apitar o final da partida e colocar a lebre no chão. E zerar o estoque de metáforas, tão toscas quanto os personagens desta crônica.

(Caricaturas e texto: Érico San Juan)

75 anos de um outro João

Vocês me dão licença pra falar de um músico de quem gosto muito? Obrigado.

Ele é acreano, mas viveu a vida toda no Rio de Janeiro.

Esteve ao lado de João Gilberto e Tom Jobim na gênese da bossa nova, mas nunca participou do movimento.

Foi aos Estados Unidos tocar jazz, mas acabou impregnado de latinidade.

Passou a vida semi-anônimo, mas depois dos sessenta de idade tornou-se uma instituição da música popular, dentro e fora do Brasil.

O humor, o ritmo e o sol da sua música encantam minha existência.

E quem quiser que cante outra. Como João Donato sempre fez.

(Caricatura e texto: Érico San Juan)

Certa noite numa sexta-feira 13...

Era meia-noite de uma sexta-feira 13. A tremedeira se apoderava daquele ser alérgico a morcegos, quartos escuros e sextas-feiras 13.

Um lobo começou a uivar no horizonte. Para aquele ser medroso e supersticioso, parecia que o lobo estava a centímetros de distância, tão impressionante o uivo a gongar nos ouvidos do infeliz (o medroso, não o lobo).

A luz do quarto se apagou. O ser medroso ficou aterrorizado de verdade. Era muito azar de uma só vez. Bem que ele queria estar bem longe dali, quem sabe a sós com a namorada. Mas se lembrou do insuportável: a namorada o abandonara semanas antes. Tanto azar naquela sexta-feira 13 só podia ser praga da ex-amada.

Como que atraído pelos maus agouros acumulados em tão poucos minutos, um morcego voou na direção do melindrado homem. O desventurado começou a passar mal, sentindo o ar faltar. A dois passos do pobre homem, o morcego parou. Era o fim!

Num passe de mágica, surgida dos ares misteriosos da noite, o morcego tomou feições humanas, estufou o peito e proferiu a ameaçadora sentença:

- Quer casar comigo, bofe?!

(Publicado no blog da Revista MAD)

11 de mar. de 2009

Eu na MAD - 3

A revista MAD está apagando sua primeira velinha na editora Panini.

Uma amostra da edição de março está aqui. Os eventos para comemorar o aniversário da revista estão aqui.

Neste número, fiz uma sátira ao filme Crepúsculo. E um "cartum fotográfico" na seção Salada Mista.

A revista MAD 12 está nas melhores bancas do Brasil, a 6,50.

2 de mar. de 2009

SketchCrawl - Dia de Desenhar na Rua (Piracicaba)

Ao lado, o cartaz do SketchCrawl Piracicaba (clique na imagem para ampliá-la).

A ilustração é do Edu Grosso, ativo participante de salões de humor mundo afora, além de versátil artista plástico.

O evento foi realizado neste sábado, dia 7 de março. Cerca de vinte artistas retrataram as proximidades da Casa do Povoador, às margens do Rio Piracicaba.

Os trabalhos serão reunidos numa exposição. Mais detalhes em breve.

Dica no Blog do Noblat

Clique aqui para ler o comentário que Ricardo Noblat, colunista do jornal O Globo, fez sobre nosso blog.