19 de jan. de 2010

Depois ainda falam mal do Datena

O impacto dos desabamentos e mortes em Angra dos Reis foi substituído pelo espanto com o terremoto no Haiti. Mesmo assim, o Gugu Liberato tirou uma casquinha da tragédia brasileira, indo lá construir uma casa nova para uma desabrigada.

O que tem me deixado distante da televisão é a falta de simancol das emissoras, empenhadas em faturar audiência com a desgraça alheia, tanto em Angra quanto no Haiti.

Revoltante a atitude de uma repórter global numa tentativa de resgate de vítima do terremoto. A intrépida jornalista empunhava um microfone, pronta a arrancar um depoimento da vítima perdida nos escombros.

Lembrei de outra atitude cretina de outra repórter global nas últimas Olimpíadas. A ginasta Daiane dos Santos, cercada de expectativas por uma conquista de medalha para o Brasil, não se saiu bem nas competições em que participou.

Provas terminadas e resultados divulgados, lá foi a repórter da Globo colocar a ginasta no paredão: "Por que você perdeu?" Conformada com a derrota, Daiane respondeu o que uma pessoa sensata, mas triste, responderia numa hora dessas.

Não satisfeita, a repórter insistiu no interrogatório, talvez esperando uma lágrima ou um pedido de perdão ao povo brasileiro. Que não vieram.

Os departamentos de jornalismo deveriam se misturar aos departamentos de shows das televisões. No fim das contas, é tudo espetáculo mesmo.

15 de jan. de 2010

O humor do velho Chico

Tá aqui um pitaco sobre Chico Anysio que eu gostaria de dar desde o fim do ano passado. A natural dispersão das festas me impediu de dá-lo antes. Vai agora.

Vi na Globo o especial de Chico Anysio, o humorista mais amado do Brasil durante décadas.

Chico começou no rádio como redator de humor, teve músicas gravadas por intérpretes como Dolores Duran, inventou com Carlos Manga o programa em que se vestia de diversos personagens, sentiu o gosto verdadeiro da fama em sua onipresença na tela mais cobiçada pelos artistas, caiu no ocaso após ver seu último projeto, a Escolinha do Professor Raimundo, fora do ar.

A família do humorista esteve representada nos últimos anos na tevê por seus parentes: a sobrinha diretora Cininha de Paula, e principalmente Bruno Mazzeo, protagonista do Cilada, programa da TV a cabo que acabou ano passado.

Já o programa especial Chico e Amigos, conduzido pelo veterano Mauricio Sherman, trouxe vários personagens que o velho comediante um dia encarnou. Popó, Haroldo, Justo Veríssimo, Coalhada, contracenando com atores como Milton Gonçalves e Lima Duarte. O último bloco trouxe uma bela ideia: o Professor Raimundo numa sala de aula formada apenas pelos personagens de Chico, todos feitos por ele, numa combinação virtual bem interessante.

A imprensa e o povo elogiaram o programa. Ninguém disse o óbvio: o velho Chico não possui mais condições físicas de realizar um programa como os de antigamente. Era visível que suas vozes, outrora tão diversas nos vários personagens, reduziram-se a um sopro rouco invariável. E nenhum dos tipos se move em cena.

A idade e as limitações impostas por ela poderiam tornar qualquer crítica a Chico um exercício de incompreensão e crueldade. E o artista também tem todo o direito de querer voltar à arena onde um dia reinou absoluto.

Só que as novas gerações jamais olharão um programa de Chico Anysio atual, feito esse exibido pela Globo, e acreditarão que o idoso protagonista seja o gênio que seus pais e avós tanto assistiram em outros momentos. É o mesmo caso de Roberto Carlos, em seus especiais anuais.

Vemos essa turma mais pelo que foram do que pelo que são hoje, numa deferência (e reverência) por serviços prestados.

3 de jan. de 2010

Chega de rituais

Passei incólume pelo Natal e pelo Ano Novo. E pelo meu aniversário, um acontecimento do terceiro dia de cada ano. Meu estômago é um só; as celebrações, muitas.