29 de jun. de 2011

Mexericas da Candinha

Adoro mexericas. Muita gente compartilha da preferência, mas chama as mexericas de tangerinas. Esse nome, "tangerinas", eu só conhecia de comerciais de sucos na televisão.

O espanto carimbou meu rosto quando soube que "mexericas" e "tangerinas" eram a mesma coisa. O gosto do suco adocicado, esparramado na garganta após mordidas nos gomos laranjas, mudou com a descoberta.

E haja descoberta frutífera. O Wikipédia, novo pai dos burros do século XXI, diz que mexericas possuem outra denominação: "bergamotas".

Para este mexeriqueiro sem Candinha, "bergamota" tinha semelhança com o nome "marmota", bichinho dentuço dos desenhos animados norteamericanos. O outro nome para a mexerica rimava com "bota".

Tanto "marmotas" quanto "botas" abundavam nas animações das sessão-pipoca da molecada, eu incluído. Nada animadoras eram as broncas maternas, caso não consumíssemos as sobremesas com todas as frutas possíveis e imagináveis. As mexericas entre elas.

Do jeito que vai e vem o mundo atual, onde faltam árvores e sobram desarvorados, é capaz de me discriminarem por chamar "mexericas" de "mexericas". Porque o certo seria "tangerinas", certo? Aí virá outro dedinho no meu nariz, e ele sempre vem, proclamando que correto mesmo é chamar "bergamota" de "bergamota". Ora, ora!

Antes que o caldo da fruta entorne pra valer, o jeito é efetuar uma discreta retirada destas linhas. Para desfrutar da minha sobremesa predileta, sem interferências linguísticas de qualquer espécie. Apenas da minha língua, sorvedora das tais bolas alaranjadas.

25 de jun. de 2011

Chico e suas chorumelas chiques

Juro. Eu queria falar bem do Chico Buarque. Não vai dar.

Na última semana, alastrou-se pela internet a nova canção do novo CD de Chico Buarque, singelamente intitulado com o apelido do artista: Chico. Após tantos vinis cravados na história da MPB, um novo disco do carioca até cai bem em plena era do MP3.

O CD anterior, por sinal, se chamou "Carioca". Como se alguém, a essa altura do campeonato ganho pelo Politheama, duvidasse da cidadania fluminense do torcedor do time homônimo.

Assim como a cor de parte do uniforme do time do homem cordial, o filho de Sérgio Buarque possui olhos de cor verde. Olhos que garantiram parte do público inicial de Chico, lá nos míticos anos 60 do século passado.

As agora senhoras de meia-idade não queriam saber se o garotão tinha influências da Bossa Nova. Se largara a Faculdade de Arquitetura, se morria de timidez. Ou se fora empurrado à força para cantar no palco de um dos festivais da TV Record.

Os festivais acabaram, veio a ditadura militar. E a fama de Chico Buarque foi dividida com a fama de Robin Hood sufocado pelos milicos. Vieram as canções censuradas como "Apesar de Você". Os discos antológicos como "Construção", "Meus Caros Amigos" e "Calabar".

À beira dos quarenta anos, veio mais, além da idade da razão. A calmaria da abertura política. O relativo silêncio forçado pela onda do pop-rock-carbono praticado pela geração 80. E o envelhecimento: afinal, nem Chico Buarque é um Homem de Ferro.

Nos últimos CDs, o poeta tem navegado pelas águas calmas da "melhor idade". Até aí, nada demais. Um dia teremos todos a mesma aura crepuscular, a mesma capacidade de resmungar a respeito do nosso fim de linha. E as mesmas dores nas costas.

Mas sempre há um porém, e uma bateria de perguntas nada retóricas.

Será que as fãs do Chico anterior têm paciência para aturar seu tesão honorário falando desse crepúsculo? Quiçá toleram a ausência absoluta de qualquer traço de samba em sua obra atual? Porventura aguentam a influência jobiniana escancarada no cancioneiro recente do velho Francisco?

Eu sei, eu sei. Nenhum songbook recente, por mais lamentoso, impedirá que uma senhora, plantada na primeira fila do novo show de Chico Buarque e escorada por filhos e netos, grite elogios impublicáveis ao artista.

No entanto, quero crer que a credibilidade angariada pelo trovador-jogador se deva aos serviços prestados em priscas eras. E não ao repertório de agora.

Bem que eu avisei. Juro que adoraria falar bem do Chico Buarque. Já que não contive a soltura de minha língua, o jeito é encarar a dura realidade. Descrita não num querido diário, mas num blog mesmo. O que dá na mesma.

24 de jun. de 2011

Cabeçadas de Feriadão

1) Saio pra conferir a roupa lavando na máquina. No céu azulzão, um casal de pássaros voa em direção ao infinito.
Um céu tão azul quanto os flocos de sabão em pó na máquina.

Isso é poesia, ou vontade de lavar logo as roupas que faltam?


2) Saio pra comprar ração pras gatas. Distraído, dou uma cabeçada na placa de trânsito.

A placa diz o que tenho de fazer, ainda todo zonzo: "PARE".

18 de jun. de 2011

Pulga que pariu!

Não tem horas que dá uma vontade louca de virar uma pulga, pra passar despercebido diante da multidão?

Pois é. Isso aconteceu comigo, e justo num espetáculo de circo de pulgas. Se você não entendeu, por favor dirija-se ao próximo parágrafo. Nem precisa retirar ingresso na bilheteria.

Uma companhia de teatro carioca veio a Piracicaba encenar espetáculo num teatro que traz teatro e música o ano todo, de graça.

As matinês de alguns sábados do ano costumam abrigar peças infantis. E criança é o que não falta nessas sessões-pipoca. É possível medir a presença desse público a quarteirões de distância do lugar. Pelos decibéis de entusiasmo.

Superada a fila e os avisos de boa educação da equipe do teatro, chega a hora da função.

Um ator desempenha a função de mestre de cerimônias, com direito a cartola e fraque típicos dos picadeiros - só faltou a barriga saliente de desenho animado. Outros dois atores fazem as vezes de assistentes de palco.

A sensação da exibição de um legítimo circo de pulgas, com todo os recursos cênicos possíveis, era transmitida com perfeição aos espectadores infantis e adultos. E dá-lhe "pulgas" trapezistas e cantoras, argentinas e espanholas...

“Só não trouxemos pulgas brasileiras”, disse o MC, no final, à senhora gorda na primeira fila. “Se a senhora quiser, pode preencher uma ficha lá fora. Pra fazer um cadastro da sua pulga, tá?”

As risadas não superaram o rubor nas faces rotundas da espectadora. No entanto, os primeiros sorrisos vieram no clímax comum a qualquer peça de teatro contemporâneo: a interação com o público!

Na ribalta, o mestre de cerimônias anunciou que uma das pulgas do espetáculo saltara platéia afora. Luzes acesas, o MC apontou o dedão em linha reta, na direção adivinha de quem.

Como uma pulga acuada antes do banho no cão hospedeiro, remexi as cadeiras no assento aveludado. Sem direito a latir, subi ao palco.

O que é a vida. Tive que rir das piadas do ator-condutor do show, tive que fingir que urrava de dor na operação "retirada de pulga de couro cabeludo". O que o MC tirou de verdade foi caspa, mas isso foi um detalhe tão pequeno de nós dois...

No fim e ao cabo da operação, vieram as palmas e os assobios. E eu passei o resto do show amaldiçoando os deuses do teatro, do circo e de quem aparecesse na minha frente.

Meia hora após o mico, espetáculo terminado, saí a passos largos do teatro. Numa próxima vez, prometo habitar o canto mais escuro possível do local. Se possível, sendo confundido com as pulgas que habitam as poltronas normalmente, sessão após sessão.

17 de jun. de 2011

Marchando com todo o gás

No lar-adoçante-lar, a gente é ensinado a encarar as coisas de frente. Senão isso é covardia diante da vida.

Porém...

Alguém devia - na rua, no lar ou no bar - nos dizer o contrário de tudo isso. Porque em algum momento a gente precisa fazer o oposto: sair da frente. Pra manter a sanidade mental, pra ruminar desconsolado diante da impossível vitória. Até pra não levar cacetada e consequentes treze pontos no nariz.

Quem leva a faixa no protesto da vez, combinado na rede social entre trocentos seguidores, quer aparecer mais que os outros, embora morra sem admitir o óbvio (ou perder a ternura, que é mais bonitinho). No mínimo, periga aparecer uns dois segundos no telejornal da noite. E posa de herói quando volta pra casa. Todo felizinho.

A glória acaba quando os pais reclamam que o protestante chegou mais tarde que deveria. E o desmascarado ativista, como consolo, vai choramingar na rede social a seus fiéis seguidores.

Todo mundo curte a atitude do líder de fim de semana. Que não vai poder ir pra balada no dia seguinte, como castigo pelo desserviço prestado à autoridade paterna.

Imagina se a massa disforme de seguidores de redes sociais resolvesse fazer diferente. Vamos dar asas à nossa imaginação suína. De espírito de porco mesmo.

O povo marcha em plena avenida Paulista, sexta-feira, na hora do rush. Os poderes constituídos já estão avisados e aparelhados. A liminar esperada para impedir a multidão não aparece. As equipes de televisão têm seus sacos preenchidos até o limite, pela espera dos andarilhos atrasados.

Chega o grande momento. O cara a cara com a lei e a ordem. Os seguidores estancam, paralisados. E fazem o que nenhuma polícia, Datena ou motoristas presos no trânsito esperavam: uma espantosa marcha. À ré!

A juvenília nerd entende, num átimo de segundo, o que é encarar a vida de frente. E cai fora, galopante na direção contrária, para pasmo geral e irrestrito. Isso é que é ser do contra.

Fazer protestos, teclando fechados em seus quartos, demora mais a arder os olhos que um gás de pimenta fumegante nas narinas. O ardor jovem não resiste a um monitor LCD novinho em folha.

14 de jun. de 2011

Uma animação "desanimada". E comovente

Vi um desenho animado de chorar. Não é uma animação ruim. Pelo contrário: é emocionante.

Trata-se de Mary e Max, de Adam Elliot. O longa-metragem, de 2009, foi feito com bonecos de massinha, na técnica de animação conhecida como stop-motion, onde se filma cena a cena, movimento a movimento dos bonecos e cenários.

Usando um mote relativamente explorado em cinema e literatura - a troca de cartas entre personagens aparentemente incompatíveis - , o diretor extrai inesperada humanidade dos protagonistas da animação. E nos faz sentir, os espectadores, meros bonecos desarticulados, capazes de toda a desumanidade possível.

Mary mora na Austrália, tem mãe alcoolista e pai ausente, sofre humilhações na escola, tem um vizinho que perdeu as pernas na Segunda Guerra Mundial. Max mora nos Estados Unidos, em Nova Iorque. Obeso, transita de emprego em emprego e frequenta os Comilões Anônimos.

Por um desses acasos que podem determinar o destino de uma pessoa (no caso, o destino dos personagens-chaves da história), a mãe de Mary, cleptomaníaca não-assumida, foge do Correio após mais um de seus pequenos roubos.

Na fuga, a menina é levada pela mãe com uma tira rasgada da lista de endereços do Correio. Antes do roubo, Mary tinha escolhido na lista um nome para se corresponder.

Na companhia de um gato caolho e um peixe substituído de tempos em tempos, Max recebe a carta da garotinha, que vai se revelando e crescendo carta a carta. Ele encontra um estímulo para a vida na atenção que a menina lhe dedica, e lentamente se abre também.

A animação de Adam Elliot tem algo de grotesco, se comparada às produções da Disney, e agora da Pixar. As animações das duas produtoras, agora unidas num mesmo conglomerado, mantém a tradição de roteiros excelentes mas açucarados, para agradar a toda a família.

Já a "desanimação" Mary e Max carrega nos cenários monocromáticos, na dramaticidade das situações, nos descaminhos que a menina e o senhor percorrem ao longo dos anos, separados apenas pela caixa de Correio.

Fazia tempo que não chorava diante de uma tela. Mary e Max me fez derramar as lágrimas que andavam longe dos meus olhos.

12 de jun. de 2011

Segundas intenções de segunda

Mulher pensa que homem é tudo trouxa.

Na qualidade de representante do sexo masculino, só afirmo o seguinte, com todas as letras: ela tem razão.

Todo homem pensa que mulher tem que cair na sua rede. Não uma rede social, onde bagres e bugres se misturam a cobras e lagartos, numa alegre lambança ecológica.

A rede à qual me refiro é a tal usada em mares e rios. Aquela pra pegar peixes ao menor vacilo. Isso, naturalmente, antes da politicamente correta "pesca esportiva".

Tudo bem, homem curte o esporte de fisgar beldades e barangas desavisadas. O que esse atleta sexual ignora é a facilidade de sua presa dar a conta a ele, sem que o pretenso maratonista se dê conta.

Como no dia em que liguei para uma destinatária das minhas primeiras intenções, que eram apenas sair em busca de um lugar onde pudéssemos executar minhas segundas intenções.

Ao telefone, ela alegou ter um trabalho a entregar à sua chefe no dia seguinte. Até aí, nada demais. Não fosse o dia seguinte um feriado...

De fato, homem é tudo trouxa. Se perigar, analfabeto funcional também. Na verdade, homens são todos trouxas. Concordãncia que não melhora em nada a condição masculina.

11 de jun. de 2011

O blog ultrapassou as dez mil visitas

É pra comemorar?

Por ora, agradeço aos visitantes, seguidores e diletantes.

A casa é de vocês!

2 de jun. de 2011

"Fazer o bem sem olhar a quem"...

... que frase singular, né?

Hoje em dia, a frase é bem outra:

"Ser 'do bem' sem olhar pra ninguém".


(Este é um post-homenagem aos humoristas politicamente incorretos do meu Brasilzão de Deus.

Obrigado).