30 de nov. de 2011

O bem que esse Jorge faz

Jorge Ben é um caso de artista brasileiro sem vínculos com movimentos musicais, mercadológicos ou todas as alternativas anteriores. Jorge é Jorge, e ponto.

Ben surgiu com uma batida diferente de violão, nos anos 60, sem nada a ver com a revolução que João Gilberto desencadeara poucos anos antes.

Jorge passeou pelo samba-jazz. Flertou com a Jovem Guarda. Incorporou o discurso da negritude dos anos 70. Gravou disco de uma jam-session com Gilberto Gil. Conheceu o sucesso fora de casa.

Após três décadas de carreira, experimentou certo ostracismo. Trocou de nome, reapareceu com um hit-bomba (aquele da W Brasil). E rendeu-se ao modismo acústico-jovem de uma TV.

Com todas essas reinvenções camaleônicas, entre altos e baixos, continuou na dele. E virou um clássico: copiado, replicado e remixado por quem teimosamente julga ter a capacidade de reinventar a roda.

Mas o mundo gira, os imitadores passam. E Jorge fica: na dele e na história da música pop mundial.

O texto e a caricatura acima, saíram primeiro na revista virtual Dito, o Bendito, de autoria desse que vos digita, em 2003. Lembrei da existência do material após troca de e-mails com uma amiga jornalista de mão cheia e coração aberto.

26 de nov. de 2011

Simples e quieto

Essa caricatura é de alguns anos atrás. Achava o desenho simples demais pra divulgar. Chegou a sair numa página de humor que eu editava num jornal em Piracicaba.

Só que a simplicidade caracterizava o personagem retratado. Então, não havia motivo pra esconder o trabalho.

O escondido, na banda mais famosa do mundo, era o cidadão ao lado. Somente com o fim da tal banda é que ele se impôs, ao jeito dele.

All Things Must Pass, álbum triplo em vinil, lançado em 1970, depois relançado como CD duplo décadas depois, colocou nos holofotes o cantor e compositor outrora discreto. Embora haja quem afirme que ele não foi nada tímido nos bastidores.

De qualquer forma, ele está eternizado na história da música mundial: George Harrison. E na minha modesta caricatura.

Toques em 140 toques

As redes sociais, feito o tuíter, transformaram o mundo contemporâneo, principalmente o mundo dos usuários de internet. Transformaram e transtornaram os mesmos usuários. Abaixo, uma série de toques em 140 toques cada, para que essas transformações não fiquem cada vez mais transtornadas.


Quer tuitar, tuita. Mas...

... não fica reclamando que a vida está um tédio, que a vida está chata.

... não coloca sua vida lá em boletins minuto a minuto. Vai viver um pouco, depois volta pra fazer um "The Best Of".

... não fica dando RT em elogios que fazem a você. Senão te julgarão um exibicionista, não uma pessoa talentosa.

... pelamordedeus: não apareça do nada, todo amigão, pra pedir voto no seu trabalho em algum concurso.

... não escreva tudo em maiúsculas, achando que temos obrigação de dar crédito à sua indignação.

... controle-se nas frases de autoajuda. Senão dá a impressão que quem precisa de ajuda é você, conselheiro invencível.

... pega leve na descrição do seu estado de espírito oscilante. Rede social não é divã, nem confessionário.

... não fica mandando tuíte com propaganda de produto, a cada vez que se diz algo com palavra-chave com cara de produto.

... tenta evitar o senso comum, por favor. Principalmente as palavras que qualquer um diria após uma notícia de impacto.

... lembre-se de algo fundamental: você faz parte do universo. Você não é o centro do universo.

25 de nov. de 2011

Apaixonados e separados

Autoestima de apaixonado: "Você é tudo o que eu preciso".
Autoestima de separado: "Eu não preciso de ninguém".

Papo de apaixonado: "Essa pessoa é TUDO pra mim".
Papo de separado: "Essa pessoa é TUDO o que eu não quero".

Apaixonados se chamam por apelidos.
Separados se chamam pra briga.

Apaixonados vão às nuvens.
Separados perdem o chão.

Apaixonados fazem cara de idiotas.
Separados sentem-se uns idiotas.

Apaixonados se chamam de chuchuzinhos.
Separados tentam resolver seus pepinos.

Apaixonados não vivem separados.
Separados não querem se apaixonar de novo.

Apaixonados não veem mais nada além deles.
Separados querem se ver pelas costas.

Os apaixonados se tornam pessoas melhores.
Os separados querem encontrar pessoas melhores.

Apaixonados ardentes perdem a cabeça.
Separados lamentosos se perguntam onde estavam com a cabeça.

Paixão é um caso.
Separação já é descaso.

24 de nov. de 2011

Gil no palco

O texto e a caricatura a seguir saíram em julho de 2004, num jornal de humor chamado Rio. Lembrei do texto quando vi que o Dia do Música seria comemorado nessa semana. Quem tiver preguiça de ler muitos caracteres, pode se retirar do recinto, que aqui a prosa é longa. Mais por conta da verve do personagem principal.


Vem meu irmão e me dá um recado.
- Não vai no Engenho, não. ELE não vem!

Bem que o pessoal de Piracicaba queria. A visita estava anunciada com certa antecedência. As homenagens musicais, agendadas. Os discursos, prontinhos. E o imprevisto... dando as caras. Fazendo com que o ministro da Cultura não desse as caras na data marcada, 17 de junho de 2004.

Adiou-se sua visita ao Engenho Central, o anúncio de benefícios federais ao Salão Internacional de Humor de Piracicaba, a posse do novo Conselho Municipal de Cultura. Ele tinha compromissos. Em São Paulo e em Rio Claro.

Mas a expectativa dos presentes no barracão 7B do Engenho Central, espaço cultural à margem do Rio Piracicaba, não se frustrou. Já era o dia seguinte.

E o ministro veio. Acompanhado das inevitáveis autoridades municipais e estaduais. Acompanhado de uma multidão de fãs, com as respectivas máquinas fotográficas e caderninhos de autógrafos.

Peraí. Estamos falando de um ministro mesmo...?

Estamos, sim. Só que o ministro em questão se chama Gilberto Gil. Ex-revolucionário musical do Tropicalismo, com Caetano Veloso, Gal Costa, Tom Zé, Rogério Duprat, Mutantes. Atual músico sessentão, de carreira sólida no Brasil, ícone da chamada MPB.

Enfim, ele dá as caras em Piracicaba, em meio a uma movimentada agenda, na região e na capital paulista. Fóruns culturais solicitam sua presença. O público quer ver o ministro ao vivo, sem pagar ingresso. Aqui e lá.

No barracão próximo à Ponte Pênsil que dá acesso ao Engenho Central, os funcionários da secretaria de cultura local já sabem: Gil chegará atrasado. Seu almoço no restaurante Mirante, próximo ao famoso Rio de Piracicaba cantado por Tião Carreiro, atrasou um pouco a chegada ao Engenho. Alguém do almoço diz: "Ele até deu uma canja pra nós!" Nada estranho, em se tratando de um restaurante.

Uma hora de atraso, e chega a comitiva oficial com o ministro a tiracolo. Mais por conta do alvoroço de imprensa, que cerca Gilberto Gil com seus flashes, câmeras, bloquinhos e perguntas. Que ficam pra depois. Grande, o fuzuê.

Feitos os discursos dos prefeitos de Piracicaba e Rio Claro e do secretário de cultura de Piracicaba, duas apresentações musicais acontecem. A primeira traz o Hino Nacional executado por um grupo da tradicional Escola de Música de Piracicaba, que leva o nome do respeitado maestro Ernst Mahle. Gil apura os ouvidos para a formação de metais do conjunto.

Na segunda apresentação, um grupo de crianças apresenta uma congada, com o acompanhamento luxuoso de violeiros locais. As roupas dos músicos e da molecada remetem à festa do Divino Espírito Santo, que deixou de acontecer em muitos lugares, mas em Piracicaba ainda existe. E resiste.

E chega a hora de Gil soltar o verbo. Durante os agradecimentos de praxe, dá um tapa com luva de pelica na imprensa, que barra a visão do respeitável público à mesa. "A mídia são os meios de comunicação, que levam as nossas imagens, são as nossas janelas para o mundo, mas que já tiveram bastante tempo aqui, agora podem ficar ao lado, em pé de igualdade com as outras pessoas..." E o público aplaude.

O ministro relembra seus laços anteriores com Piracicaba. Em 1973, fez um show no Teatro São José. Na breve passagem pela cidade, um músico de sua banda acabou envolvido com uma "jovem piracicabana", que juntou seus trapinhos aos do rapaz. Após separar-se, ela ficou no Rio de Janeiro, onde envolveu-se com outro músico e teve um filho com ele. E o filho tornou-se músico, que atualmente toca com Preta Gil, filho do ministro. "Ainda que eu não quisesse, a natureza e a cultura quiseram que eu estivesse ligado a Piracicaba".

Após pedir a presença, junto à mesa das autoridades, das pessoas que formariam o novo Conselho Municipal de Cultura, Gil tece loas ao Engenho Central, ao Salão Internacional de Humor, à Paixão de Cristo, ao projeto do Museu da Ciência e Tecnologia. Ali, a retórica tropicalista entra em ação.

"Ciência, tecnologia, formas de expressão, linguagens, formas afetivas, formais vivenciais, tudo isso é cultura. Vocês estão aqui com um equipamento de primeira ordem, ao mesmo tempo tradição, memória, herança cultural e material, nas suas paredes de tijolos fortes, na sua argamassa, provavelmente ainda com óleo de baleia, como era naquele tempo".

A fala mansa do ministro passa a destacar, com a ênfase possível em uma voz rouca, a ligação do povo brasileiro com a África. Que começa com a congada, apresentada momentos antes do discurso.

"Eu vi aqui os meninos que poderiam ser alemães ou austríacos, aqui na congada. Eles são herdeiros da tradição africana. A congada aqui apresentada pelos violeiros vem de outra tradição, a tradição ibérica! A Espanha, as civilizações mouras, que durante setecentos anos ajudaram a civilizar aquela Espanha da Europa. Ali, nas mãos do violeiro! Este é o nosso Brasil: mundo tão conturbado, mas tão belo, nessa vida tão difícil mas tão rica, ao mesmo tempo".

O ministro resmunga uma vez mais com a imprensa, que lhe perguntou, na entrada, o que ele veio fazer em Piracicaba. Sua resposta à repórter: "O que eu venho fazer? Venho trabalhar!"

As palmas reapareceriam após uma pequena lição de música. Gil pede ao trompetista o significado teórico das primeiras fases musicais do Hino. Após cantarolar as frases, com o músico ao trompete, Gil declara: "Eu fui basicamente um músico intuitivo. Aprendi pela prática, sei muito pouca teoria musical". E explica: "A introdução do Hino Nacional é um conjunto de fusas, misturado com um conjunto de colcheias, e semicolcheias, e etc, e etc."

Para deleite do respeitável público, arremata: "Este talvez seja o mais belo dos Hinos Nacionais que nós temos nas nações do mundo!"

Dando início aos finalmentes, Gil empossa o Conselho Municipal de Cultura e se despede, cercado por sua equipe de trabalho, guardas municipais, imprensa e público em geral. Artistas plásticos querem entregar quadros. Mulheres querem uma entrevista informal a jato. E um rapaz, que ouvira, sim, o último CD do ministro, grita para todo mundo ouvir, inclusive a autoridade em questão: "Aê, Gil! É BOB MARLEY, cara!"

Encerrada a peleja, Piracicaba volta ao normal. Menos aqueles nativos que não conseguiram um autógrafo de Gil, e o amaldiçoariam pelo resto da vida.

23 de nov. de 2011

Caras, bocas e apagões

Num tempo em que boa parte das conversas se dá entre interlocutores escondidos atrás de monitores de computador, devidamente conectados a redes sociais, uma cena rara se passou diante dos meus olhos: um papo ao vivo entre cinco mulheres. E todas com o assunto na ponta das respectivas línguas.

A conversa aconteceu numa sala de aula, depois de dois ou três apagões no sistema elétrico da escola. O que não impediu que a mulherada tagarelasse a níveis nucleares, radiantes.

Na sala de aula, as representantes do sexo nada frágil desfiaram suas respectivas especialidades. Tendo uma chuva miúda como reles coadjuvante do ambiente, a professora falava a uma velocidade digna de um Fórmula 1. Pernas e braços saltitantes auxiliavam a oratória sem vírgulas, sem ponto final, às vezes sem eira nem beira.

As alunas acompanharam as palavras da mestra até o acalorado debate a respeito de esmaltes para unhas indefesas. Quando o assunto evoluiu para um consenso a respeito das virtudes masculinas, a única voz masculina presente achou por bem exprimir um suspiro, quase um muxoxo. Interpretado por elas como um silêncio mais eloquente que qualquer frase de efeito. Mulher interpreta até respiração, ó céus.

Não foi dessa vez que escapei da lábia escorregadia, porém graciosa, das colegas ocasionais de um curso rápido. Mesmo porque, depois de ouvir confissões sobre métodos de descarrego de energia em leitos incautos, além de juízos sobre a revolução nas artes marciais, a melhor atitude do ouvinte caipira foi a mais adequada ao momento: enfiar a viola no saco. Antes que a reação viesse toda desafinada.


Esse texto, inédito até o instante da postagem, saiu simultaneamente à tagarelice acima, no curso de Redação Jornalística do Senac Piracicaba, em 2010. Era uma aula de produção de crônicas. As colegas de classe me absolveram por tê-las transformado em personagens. O desenho do cronista entra aqui pra dar uma suavizada nas palavras ácidas. Ou entornar o caldo de vez, ao gosto do leitor e freguês.

22 de nov. de 2011

Diálogos antissociais em redes sociais

- Perdi um amigo.
- Ele morreu?
- Me bloqueou no tuíter.

- Nunca mais quero ver sua cara!
- Você nunca viu minha cara. A gente só se fala na janela de bate-papo.
- Agora é que não vou ver mesmo.

- Copie este recado e cole no seu mural.
- Cadê o recado?
- Copie ESTE recado e cole no seu mural.

- Oh, céus. Ninguém fala comigo no tuíter.
- Calaboca, seu babaca.
- Legal! Alguém falou comigo no tuíter.

- ATENÇÃO! PASSEATA NA PAULISTA...
- Tira esse Caps Lock no texto!
- ... PELO DIREITO DE GRITAR NAS REDES SOCIAIS!!!!!

- Quer perder peso? Me pergunte como.
- Como?
- Pare de comer. E saia desse computador.

21 de nov. de 2011

Emoção de primeira

Se o clichê diz que aqui é o país das cantoras, não sou eu quem vai contrariá-lo.

Tem tanta cantora nova por aí. Muitas ótimas, envolventes. Várias seguindo a cartilha das que dominam as paradas de sucesso. Outras tentando um lugar ao sol, mesmo em lugares onde o astro-rei nasce quadrado.

Nos últimos anos, os mesmos avanços tecnológicos que decretaram a morte da indústria fonográfica democratizaram o acesso de centenas de garotas à internet, aos estúdios de gravação. Cada qual com seu site, seu canal no YouTube, seu avatar nas redes sociais, seu disco.

Na minha cidade, por exemplo, a última que escutei foi Patricia Moreno. Ou Pa Moreno, como ela assina na capa do seu CD. Escutei a cantora pela primeira vez na Virada Cultural de Piracicaba, em 2011. Megaevento do governo estadual paulista, reúne, num período de 24 horas corridas, diversas atrações musicais, a maioria num espaço só.

Na espera do show dos Titãs na Virada, no Parque Engenho Central, pude olhar um dos shows "de espera", exatamente com Patricia num dos palcos. E foi no palco do teatro do Sesi, onde coloco os pés quase todas as semanas, que revi a cantora, no espetáculo de lançamento do seu primeiro CD. Esse que ilustra a postagem.

A maioria dos trezentos e tantos assentos do teatro estava ocupada. Uma turma de fãs de todas as idades prestigiou a cantora. O clima lembrava o de um domingão em estádio de futebol, tamanho o zum-zum-zum no recinto.

Pa Moreno tem dezoito anos de carreira. E uma trajetória comum a outras intérpretes. Cantando em corais, musicais, festivais, coletâneas em disco, bares e restaurantes, até chegar ao CD solo. O repertório do disco integrou o set list do palco do Sesi.

A banda que acompanhou a intérprete no show teve o baixista Celso Rocha (dono do estúdio Apache, local de gravação do disco), o pianista André Grella e o baterista Roggero Chiarinelli. Completou o time o marido de Patricia, Zé Rubens Trevisan, que toca violão, guitarra e compõe com a mulher.

A performance de Pa Moreno saltou aos olhos e ouvidos do respeitável público. A iluminação projetou cores fortes no palco e na cantora de vestido vermelho: vestes de uma diva. Para dar um toque a mais de emoção no clima de estreia, Patricia contava a história da criação de cada música. A humanidade da atitude tirou das costas da cantora o rótulo de "diva".

As canções propriamente ditas - ou cantadas - trazem a salada de ritmos típica desse mundão contemporâneo, embora Patricia tenha declarado no palco a paixão pelo blues.

Para um ouvinte incorrigível de MPB, que não admite letras sem achados poéticos à la Chico Buarque, versos pop podem soar simples. O que não impede a compositora e seus parceiros de atingir um nível mais "literário", na simbiose entre versos e músicas.

Sem ouvir a música, apenas lendo o encarte do CD na entrada do show, gostei de "Mágico" (Pa & Trevisan). No palco, a expressividade de "Iniciante" (Pa, Trevisan & Hion), em dueto voz & piano, não seria a mesma se construída de forma rebuscada.

A ideia mais interessante ficou registrada em "Samba no cais" (Pa & Trevisan). A história do sambista-malandro-cachaceiro, de nome Januário, é velha de décadas no imaginário da música brasileira. Mas contar-cantar o personagem num blues inverteu a expectativa trazida pelo título ao ouvinte. Que samba, que nada.

Os músicos Daniel Sanches e Luis Dutra acompanharam a intérprete em algumas canções. E a autora dos versos de "Iniciante" recebeu o abraço emocionado de Patricia no bis final.

O que mais se ouvia teatro afora, ao final do show, era o coro de "Bravo!". As palmas ruidosas do respeitável público acompanharam o coro. De minha parte, fica o gosto de "quero mais". Ainda bem que agora há o CD de Pa Moreno, que satisfará em parte o desejo por novas performances da cantora.

19 de nov. de 2011

Uma nova história de crianças, feita por crianças

No dia 18, tivemos o lançamento de mais um livro infantil: Cesta!

A versão impressa da obra, em formato de poster, teve as capas autografadas pelas crianças-autoras.

A versão online está disponível para leitura aqui.

A obra foi feita por alunos e alunas de 5 a 10 anos, em oficina orientada por este cartunista, no dia 29 de outubro, na escola Waldorf Novalis, em Piracicaba.

Além da tarde de autógrafos, houve mostra dos desenhos produzidos por elas na oficina.

Outros livros infantis criados em oficinas estão aqui, aqui, aqui e aqui.

O livro feito por mim com a ilustradora Maria Luziano, A Pipa Avoada, está aqui. Também é uma história para crianças.

Em breve, se Deus e Papai Noel permitirem, faremos uma história de Natal. Os leitores desse blog serão devidamente informados.

10 de nov. de 2011

Viajando na literatura

Nessa semana de sol, viajei a uma cidade aprazível. Os abnegados que não tem preguiça de tirar a poeira dos dicionários sabem. "Aprazível" é uma qualidade digna de cidades turísticas. Desta feita, São Pedro merece o adjetivo.

São Pedro é uma cidadela próxima a Águas de São Pedro, próxima a Piracicaba. É água pra todo lado na região. Em Piracicaba, tem um rio. Águas é uma estância hidromineral. São Pedro tem o nome do santo invocado a cada vez que o calor anda de doer.

E foi num calor de doer que disse "São Pedro" ao motorista do ônibus. Uma hora depois, cheguei à cidade. Subi uma ladeira, cheguei à praça da Matriz, observei uma biblioteca novinha em folha, ainda por inaugurar. E entrei no Museu Gustavo Teixeira.

O patrono do Museu é considerado "filho e poeta maior" da cidade. O prédio do Museu tinha sido um colégio, também com o nome do escritor, morto em 1937.

A minha visita ao lugar também era pra conhecer um escritor: Nelson de Oliveira. Vindo de São Paulo, participa do projeto Viagem Literária, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.

A Secretaria convida escritores a colocarem o pé na estrada, rumo a cidades do interior. Nelas, os autores dão oficinas para públicos de idades e experiências diversas.

Nelson é escritor de vasto currículo e militância ativa na área. Doutor em Letras pela USP, tem duas dezenas de livros publicados. As gerações 90 e 00 foram contempladas e valorizadas por coletâneas organizadas pelo autor.

Quando pus os pés no Museu, senti o rangido das tábuas de um prédio antigo, a tradição embaixo da sola do tênis. Na sala de palestras, avistei o primeiro colega de turma: um ex-escriturário de português escorreito. Sobrevivente de um tempo em que se usava, sem faces ruborizadas, a palavra "escorreito".

Logo chegariam os participantes da oficina: estudantes do ensino médio de cidades próximas a São Pedro, acompanhados dos professores das respectivas escolas.

Após a auto-apresentação, Nelson iniciou sua fala desmistificando a inspiração e a literatura em geral. E propôs exercícios de criação de textos a partir de estímulos: minicontos de Júlio Cortazar e um curta-metragem animado, onde um tigre abalava uma metrópole inteira com sua presença.

O exercício final era a observação de dois quadros do museu. A partir de um deles, um texto nasceria. Os textos poderiam ser em prosa ou em versos.

O que dá pra notar de imediato nesse tipo de atividade, agora que também faço isso junto a crianças, é a paralisia que acomete os participantes. Nelson observou o fato durante a oficina.

Jovens não recebem estímulos para a criação, tanto na escola quanto na vida cotidiana, direcionando todas as suas energias para o vestibular. A criação fica em segundo plano, talvez em último. Em muitos casos, adormecida para sempre.

Mesmo com os risos nervosos e temerosos da reação dos colegas em volta, Nelson fez com que os alunos lessem em voz alta as produções do momento, com direito a análise do estilo de cada um. Não que os adultos do lugar - eu e o colega parnasiano - não ficássemos com as pernas tremendo.

De minha parte, tive boas surpresas com a molecada. A turma pré-vestibulanda se mostrou articulada e imaginativa. Pena que não é possível reproduzir os textos aqui.

A tarde terminou com as inevitáveis despedidas. Os adultos da sala ganharam do "oficineiro" exemplares do livro "Muitas peles", de um tal Luis Bras. O autor da obra é colunista do jornal literário Rascunho, de Curitiba. E habitante cativo do imaginário de Nelson.

Pra vocês terem uma ideia, Luiz faz defesas bem-humoradas e consistentes da ficção científica, um gênero jamais lido e abordado por este palpiteiro que vos digita.

Nunca é tarde pra começar novas leituras e novas viagens. E vamos nós.

(Foto retirada do blog Lenda Urbana, de Nelson de Oliveira. Se houvesse o crédito do fotógrafo, eu colocaria aqui)

5 de nov. de 2011

Vovô viu a uva? Eu vi o Ivan da Viola

A velha frase "Agradecemos a preferência, volte sempre" pode ser aplicada a espetáculos de música. E a artistas gentis.

Na cidade da música, num fevereiro de três anos atrás, eu fazia a primeira digestão do dia. Ajeitado no sofá do lobby do principal hotel de Tatuí, ouvi um som suave de violão.

Tudo bem que este cidadão estava no município para acompanhar um festival de música. Mas ouvir algo tão celestial, ao alcance dos ouvidos e distante de um teatro, seria delírio em excesso para o horário. Ou efeito colateral do café da manhã.

Olhei para o lado. Avistei um cidadão sentado e curvado, procurando a melhor harmonia para uma canção. Mal sabia que ele é que harmonizava a minha manhã.

Puxei papo com o encurvado. Minha voz ainda não passara pelo adestramento de um curso técnico de locução, com DRT e tudo. Na ocasião, os sons emitidos por minha garganta caipira nada tinham de suaves. Ao contrário da fala do músico no sofá.

Trocamos gentilezas e mimos. Ele me deu um CD, eu dei a ele uma caricatura. Nos despedimos e fomos cuidar da vida. Cada um na sua.

No ano seguinte, em Piracicaba, fui ao campus da Esalq, reencontrar o músico que encontrei em Tatuí. Lá, ele ministrou uma espécie de aula-show de viola. A cada canção, percorria a história do instrumento e da canção rural brasileira.

Ao final da aula, um espetáculo de fato, me apresentei novamente. Para minha surpresa, ele se lembrou do meu nome e do encontro no hotel no ano anterior.

A atração à parte ficou por conta da filha do músico. Ao me olhar desenhando uma nova caricatura do pai, ela resolveu: "Quem vai te desenhar agora sou eu!" E ganhei uma caricatura dela.

O mais recente contato com o músico-professor foi mais perto de casa ainda: a seis quadras de distância. O músico que me premiou com tantas gentilezas fez uma apresentação no teatro do Sesi do bairro. Ele e seu trio.

A discrição do mineiro de Itajubá não ocultou a inquietação da sua arte. Não impediu a ousadia nos arranjos para músicas tradicionais como Tristeza do Jeca (de Angelino de Oliveira), Nascente (de Flávio Venturini e Murilo Antunes, gravada por Milton Nascimento) e até Eleanor Rigby (de Lennon & McCartney).

A tal discrição também não barrou a introdução de músicas próprias do artista, como a trilogia Ar, Água e Fogo. E Menino. E Mistério. Todas essas do recente CD, "Do Corpo à Raiz".

Como na aula da Esalq, o músico de formação acadêmica e coração improvisador dava os nomes das músicas e contava passagens da história da viola (mais antiga que o "irmão" violão).

Mesmo com a pompa e circunstância quase budista do anfitrião, não faltaram brincadeiras com os acompanhantes de palco: o baixista Gilberto de Syllos e a rabequista-violinista Paula Di Ferrão (chamada de "Paulinha da Viola" do grupo).

Lágrimas enxutas, função terminada, voltei para casa, revirar o cofrinho. A passos largos, entrei de novo no teatro, comprei o CD recente do músico e fui dar outro abraço nele.

O violeiro que sempre me atendeu muito bem atende pelo nome de Ivan Vilela. Seguirei à risca a frase-feita do comércio: voltarei sempre. A escutar seus CDs. E a me emocionar com seus shows, sô.

1 de nov. de 2011

O irmão do Ziraldo também é legal

Esqueci de falar. Mas nunca é tarde para certas notícias.

O Salão Internacional de Humor de Piracicaba homenageou Zélio Alves Pinto, um dos fundadores do evento nos anos 70, com uma mostra paralela exclusiva.

O irmão do Ziraldo completou 50 anos de carreira. É um artista gráfico de mão cheia, tanto quanto o irmão. Nos últimos anos, dedicou-se às artes plásticas com a mesma competência.

Além de cartuns selecionados de Zélio, a mostra trouxe 50 desenhistas convidados a homenagear o mestre, cada um com uma caricatura. A minha é essa aí ao lado.

Estar numa homenagem dessas, ao lado de caricaturistas e amigos como Spacca, Baptistão e Edu Grosso, foi uma das minhas alegrias de 2011. Que venham outras, dá tempo.