29 de mar. de 2012

Parabéns, Logan!

‎Flavio Soares e "A Vida com Logan" ganham merecidas homenagens, nos três anos da tira.

Amigos de traço - Iéio, Laudo Ferreira Jr., Omar Viñole, Mario Cau - retrataram o criador e sua criatura. Eu também.

Conheça as tiras do Logan. Faça uma visita ao site.

27 de mar. de 2012

Se eu falar mal do Renato... tá Russo

O problema de ser um icone nem é do ícone. É problema de quem se dispõe a falar do icone sem histerias típicas de quem o sustenta no pedestal: o fã.

Em época de internet, então, onde todo mundo tem opinião pra tudo, analisar o legado de um ídolo é atitude quase suicida.

Dito isto, convém explicar que não "falarei mal" do cantor e compositor Renato Russo. Nem falarei tão bem assim.

Nos anos 80, embora vocês não acreditem, o mundo não tinha internet. Mas tinha Legião Urbana tocando nas rádios brasileiras.

Entre canções de protesto adolescente e baladas melancólicas, o som do conjunto não escondia influências escancaradas do pop inglês. Joy Division que o diga.

Mesmo com esse "porém", mesmo não sendo um sex symbol como o RPM Paulo Ricardo, Renato Russo tinha carisma e inteligência. E tinha uns óculos retangulares que revelavam sua atitude nerd. Explorada à exaustão anos depois por nerds muito menos brilhantes que Russo.

Aos dez anos de idade, cheguei a maltratar o violão do meu pai em aulas do instrumento. As canções mais fáceis de tocar eram as do Legião Urbana e do Raul Seixas.

Após infinito consumo de bandeides nos dedos machucados, desisti de me tornar um violonista, o que certamente diminuiu meu eleitorado feminino nos anos de espinhas na cara.

O tempo virou meus gostos e desgostos pelo avesso. Passei a preferir o senso de humor do rocker baiano. O que não me impediu, anos depois das aulas frustradas de violão, de homenagear o roqueiro melancólico com uma caricatura. Desenho que você viu tão logo abriu a postagem.

É isso aí. Os fãs de Renato Russo não precisam mais me crucificar. Que alívio.

19 de mar. de 2012

Timóteo em Porto Alegre

Peço licença para pular de alegria.

Estou entre os artistas selecionados do XX Salão Internacional de Desenho para a Imprensa de Porto Alegre, com a caricatura do cantor Agnaldo Timóteo (clique na imagem ao lado para ampliar).

Essa é minha primeira caricatura selecionada num salão de humor. Em edições anteriores dos salões de Piracicaba, Paraguaçu Paulista, Santos e Porto Alegre, expus apenas tiras e charges.

Outro motivo de felicidade é a entrada de um desenho de um cantor menos valorizado do que deveria. Na minha humilde opinião, é claro.

Para completar a alegria, o júri gaúcho escolheu uma caricatura minimalista, estilo pouco usual em salões. O "menos-é-mais" de Timóteo é o mesmo do meu Noel Rosa escolhido para um livro publicado em 2011.

Pronto, terminei o discurso. Quem puder, comemore por mim na abertura do Salão, no próximo dia 23, em Porto Alegre. Segue o convite abaixo.


Só o que interessa

Uma de minhas biografias preferidas é a do cantor Mario Reis, escrita pelo jornalista Luís Antônio Giron.

O autor do livro declarou, no capítulo inicial, a dificuldade para levantamento da vida privada de Reis, um sujeito discretíssimo.

Fosse hoje, um cantor novo jamais escaparia de ter ao menos um perfil nas redes sociais. Convenhamos: a vida privada de alguém - artista ou "plebeu" - é tão interessante assim?

Giron conclui que Mario Reis deixou à posteridade apenas o que julgou relevante: sua arte. Ah, se outros artistas seguissem esse exemplo.

15 de mar. de 2012

40 anos fechando os verões, com ou sem karaokês

As águas de março sempre fecham os verões tupiniquins. Quarenta anos atrás, elas deram título a uma canção de Tom Jobim.

A versão eternizada por Elis Regina e o compositor é a mais lembrada. Assim de estalo, dá pra lembrar de outras.

Na versão de Miúcha, de Toquinho e do autor, gravada num show em Milão, a cantora derrapa em alguns versos. Um erro pra lá de normal, mesmo com a intimidade da irmã do Chico com a obra de Tom. Ou vai dizer que essa letra quilométrica é fácil de decorar?

Só do Tom, há três versões-solo. A primeiríssima gravação foi feita para o Disco de Bolso do Pasquim, revista e compacto simples encartado nela. O cantor Sergio Ricardo, responsável pelo projeto, realizou uma parceria com a editora do polêmico jornal de humor e pôs o bloco na rua. Ou melhor: pôs nas bancas o disco mais a revista.

A primeira versão da canção trazia um andamento mais acelerado que o adotado depois, em outras interpretações. E a letra ainda não era a definitiva. O cantor-autor arfava. Haja folego.

João Gilberto cantou as suas Águas num
LP de 1973. A versão reforça o que a canção pode trazer de monótono, já que as variações se dão mais na harmonia, e não na melodia. O cantor ainda se deu ao luxo de inserir um improviso fora de propósito no final: "no fundo do mar". E eu que pensei que Tom falasse de um rio na letra...

Uma das versões ouvidas por este que vos digita é de Marisa Monte e David Byrne, gravada para o CD Ret Hot + Rio, em 1996. Marisa canta que é uma beleza, como sempre. Ouvir Byrne é um exercício de tolerância auditiva. O acompanhamento instrumental segue o estilo "world music", esse rótulo exótico conferido à música criada fora dos Estados Unidos.

Há outra releitura nesse tom contemporâneo, realizada pelo grupo Bossacucanova, cantada por Cris Delano, parceira de discos e shows com Roberto Menescal, o compositor da bossa com cara de música de elevador. É versão for export, com letra em inglês. Uma senhora letra, criada pelo próprio autor dos versos originais: Antonio Carlos Jobim.

E o que o finado músico diria de uma versão-pra-cantar-no-chuveiro, dada a público por ocasião dos 40 anos da canção?

Nessa versão-clipe, os "novos" cantores da "nova" MPB são mostrados em estúdios, casas e outros ambientes similares. Cada um no seu quadrado, tentando acompanhar, como num karaokê chique, a gravação de Elis & Tom.

Para quem não está nem aí com essas efemérides, e gosta de Águas de Março independente do que se possa fazer com ela, num banheiro ou num estúdio, o resultado é divertido. Alguns cantores arriscam-se a "interpretar" as Águas, mas erram o andamento. Outros limitam-se a entoar os versos de forma mais linear.

Não conheço direito os cantores da "nova MPB" que participaram do clipe. Nem sabia que havia uma "nova MPB". O único que me fará lembrar das Águas-Século-21 será o rapper Emicida, numa participação reverente e auto-louvatória.

Que venham outros verões. Tom Jobim continuará por aí, de um jeito ou de outro.

11 de mar. de 2012

Parece que foi ontem, poderia ser hoje

A charge ao lado saiu em 2008, num 5 de janeiro, no Jornal de Piracicaba.

Certas charges tem "vida útil" mais longa. Certas anomalias políticas, sociais e econômicas infelizmente permanecem.

No caso desse desenho, era necessário explorar situações fora do noticiário político de janeiro - que não há. O que existe é um mês de férias.

É só trocar o nome do imposto aumentado, que a charge continua valendo.

10 de mar. de 2012

Resgate de desenhos perdidos (1)

Pensa que desenhista fica desenhando o tempo todo? Pois lhe digo uma coisa: você tem razão.

O desenho ao lado é de uma época em que eu ouvia muita música negra brasileira. É uma caricatura do pianista Dom Salvador.

Salvador Silva Filho, nome de batismo do músico, começou a ficar mais conhecido nos anos 60 do século passado. Tocou em trios de bossa nova, daqueles onde havia baixo, batera e piano.

Não era a bossa nova de barquinhos e garotas de Ipanema, mas o samba-jazz, predominantemente instrumental.

Nos anos 70, Dom deixou de lado as bossas e formou um conjunto apenas com músicos de raça: Abolição, numa variação tupiniquim do som da Motown.

"Sangue, suor e raça" é um dos meus discos preferidos. E Salvador está por aí até hoje, morando nos Estados Unidos. Vez por outra, bate ponto no Brasil.

Se desenhista vive desenhando, músico vive para tocar. Já que os artistas do teclado me tocam, não custa nada uma homenagem singela de um rabiscador compulsivo.

6 de mar. de 2012

História de ficção baseada em guarda-chuvas reais

Todo moleque - até alguns amigos meus - torrava a paciência dos pais pedindo carrinho bate-volta, boneco do Falcon, paçoquinha. Eu não. Pedi, de cara, um guarda-chuva. Por quê? Quando eu era bem pequeno, vi um comercial de banco, cujo símbolo era um guarda-chuva. Tão bonito aquilo. Por isso azucrinei minha mãe até conseguir um guarda-chuva. Ela, com medo que eu me espetasse com tão extravagante brinquedo, adiou um pouco, depois me levou a uma loja e pediu que eu escolhesse o tal guarda-chuva. Logo me apaixonei por um, colorido de tudo, e o chamei Juvenal.

Por toda minha infãncia, o Juvenal me acompanhou. Os moleques, esses alguns que falei antes, achavam esquisito um deles gostar tanto de guarda-chuva. Tinham mascotes como gatos, cachorros, lesmas até. Guarda-chuva, só eu. Logo se afastaram de mim. Só mais tarde descobri o óbvio: num grupo social, as esqusitices tem de ser coletivas. Se há UMA esquisitice, monopólio de UM sujeito, não há grupo que sobreviva. Esquisite isolada incomoda.

O tempo passou, como tudo de bom na vida. Tive outros Juvenais, pois era impossível a um pivetinho deixar um brinquedo reluzente e perfeitamente conservado por muito tempo. Cheguei à adolescência, passei por aquela fase de falsa afirmação que todo mundo passa, tendo que arrumar emprego. Fazer serviço militar, arrumar namorada. Mas, lá das profundezas do meu ser (desculpem a frase, veio das profundezas do meus neurônios de poeta frustrado), eu pensava no Juvenal abandonado.

Segui a vida, senão ela me engolia. Entrei na tal bobagem do "até que a morte os separe", "sejam felizes para sempre". Oito anos depois do juramento no altar, minha mulher me despachou para um outro lado da vida: a condição de solteiro-divorciado. A mulher esperou avançar o tempo, convertendo minha maneira diferente de comportamento diante do mundo, de "maravilhosa" a "desastrosa". Catei a escova de dentes, o Juvenal empoeirado que jazia no fundo do guarda-roupa e me mandei, limpando os respingos do passado distante.


Ganhei ontem um guarda-chuva. E lembrei dessa história e dessa ilustração, publicados há dez anos na página de humor Rio, editada por mim no jornal Tribuna Piracicabana. A ilustração está aqui junto ao texto original, tal como saiu na página.

5 de mar. de 2012

Dias melhores, verão

A charge ao lado saiu em 13 de janeiro de 2008, no Jornal de Piracicaba.

Como em toda charge engraçadinha que se preze, as situações se repetem, os males de verão também.

Pensando bem, há outras mudanças e outros excessos, verão após verão.

Dias melhores virão? Talvez em alguma outra estação.

É pagar pra ver. Porque imposto a gente continua pagando.

3 de mar. de 2012

O programa não muda? Mude você




















Essa charge é do dia 4 de janeiro de 2008. Saiu no Jornal de Piracicaba.