28 de fev. de 2009

Discutindo a relação

Num fim de semana calorento, acessei um certo site de relacionamentos, muito popular entre as pequenas multidões que usam a internet. Na página inicial, acessei a seção de "amigos". Passei os olhos na lista dos merecedores dessa distinção. Espantado, constatei que mais de cinquenta por cento daqueles rostos eu nunca vi mais gordo, magro, bronzeado artificialmente ou alterado por botox.

Estou falando uma língua desconhecida a vocês? Aqui cabe uma explicação aos "tiozinhos", "avozinhos" ou outros parentes-diminutivos que nunca ligaram um computador, mas sabem ao menos o que é internet. No site de relacionamentos supracitado, você só entra indicado por um "amigo virtual". Uma vez dentro do site, acontece o inevitável: uma solidão instantânea se apodera do seu ser.

Para justificar a sua súbita presença no "espaço virtual" e dar um peteleco na carência que o invadiu, você se encarrega de arrumar outros "amigos virtuais" o mais rápido possível. Ao contrário de muitas correntes, que prometem dinheiro ou coisas piores aos seus adeptos, a corrente dos "amigos virtuais" do site garante a sensação de que você jamais estará sozinho, mesmo tendo à sua frente apenas uma tela de computador. É o caminho para a felicidade, ainda que fugaz. Mas não se pode querer tudo de uma vez e ao mesmo tempo, oras.

A sigla QI (Quem Indica), tão eficiente no mundo real, é artigo de primeira necessidade no "mundo virtual" da internet. Em outras palavras: se você não tiver muitos "amigos virtuais" no "mundo virtual", há o risco de você perder seus amigos reais do mundo real, dependendo da porcentagem de radicalismo da sua comunidade.

O efeito psicológico desse boicote costuma ser devastador, principalmente entre humanos que mal espremeram sua primeira espinha ou levaram seu primeiro trote na faculdade. Mas não há defesa possível para minha suposta maturidade. Assim que entrei na "comunidade virtual", fui acometido da mesma carência de afeto comum a um portador de acne ou calouro de faculdade.

Os sites de relacionamentos despertam nos seus usuários os instintos mais primitivos de um ser humano, geralmente relacionados à infância. Há casos de homens de terno e gravata que disputam chupetas com filhos, sobrinhos ou netos. Pais de família resgatam aquele olhar carente e pidão há muito esquecido no tempo e no espaço. E há marmanjos que participam de eventos onde todos se vestem de personagens de quadrinhos e desenhos animados. Como vêem, não são só os espinhentos e universitários que padecem com as novas tecnologias.

Em matéria de adaptação, sou aquele que sempre tropeça na mesma pedra no meio do caminho. Mas a teimosia, se não me leva a desviar do caminho, pelo menos ajuda a não quebrar o pé com a dita pedra. Sou do tempo em que o elepê estava sendo substituído pelo CD, o José Sarney tingia o bigode de preto e não de acaju, o símbolo sexual do Brasil era a Maitê Proença e não uma mulher-fruta qualquer.

Nesse tempo, amizades se faziam na escola, no trabalho e em outros ambientes reais. Ao constatar que não conheço pessoalmente metade dos meus "amigos virtuais", concluo, desolado, que sou mesmo de outro tempo. Mas os mesmos "amigos" podem apontar os respectivos dedos indicadores na direção do meu nariz e dizer que isso não passa de papo de tiozinho. E sem aspas!

21 de fev. de 2009

Johnny Alf, música e coração


Meu disco preferido de Johhny Alf, com o encarte gentilmente autografado pelo artista 


Alfredo José da Silva, mais conhecido por Johnny Alf, é um dos precursores da bossa nova, estilo forjado por Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lyra e Roberto Menescal. Após mais de cinquenta anos de carreira, restou ao humilde Alf - cantor, compositor e pianista - a crença obstinada em seu trabalho musical, até os dias do novo século. Crença que o mantém vivo e atuante aos quase oitenta anos de idade, a serem completados em maio próximo.

Por acreditar no ser humano por trás de Ilusão à toa, O que é amar, Eu e a brisa, Luz eterna e Redenção, canções imortalizadas nos corações dos admiradores da música brasileira, tomei o trem para Santo André, onde Alf reside, para conhecê-lo pessoalmente. Uma atitude que me faria esquecer da frustração carregada por mais de dez anos, quando perdi uma rara chance de vê-lo, ele e sua banda, num show no Sesc Piracicaba.

Em plena recuperação de uma doença grave, o músico e compositor me recebe com poucas e boas palavras. Observando o desconhecido de sua poltrona, como um pacífico mestre que sabe exatamente a proporção de sua grandeza, a saraivada de perguntas sobre carreira, composições e detalhes de produção dos discos não incomoda Johnny Alf. Mas as respostas oferecidas por ele são monossilábicas, minimalistas. Alf é daqueles artistas que dizem mais em sua arte do que num bate-papo. Mas dizem tudo.

Em vinte minutos de conversa, porém, as palavras do músico começam a se expandir. Os visitantes também. Entra no quarto o cantor Djalma Dias, famoso nos anos 70 pela canção Capitão de Indústria, dos bossanovistas Marcos e Paulo Sergio Valle, incluída na trilha sonora da novela global Selva de Pedra. Djalma começa a falar do controverso Agnaldo Timóteo, cantor e atual vereador pela cidade de São Paulo, e do disco que este fez com as canções de Roberto Carlos. Johnny Alf, mais prestigiado e respeitado na música brasileira que Timóteo, elogia o intérprete do sucesso Meu grito.

Mais à vontade com a entrada do colega de ofício, a alegria de Johnny Alf aumenta com a chegada de mais visitantes: o pianista Luiz Loy e sua esposa Mara. Como Johnny, Loy é a própria história da música brasileira, especialmente a partir dos anos 60. O recém-chegado desmistifica o lendário gênio difícil de uma certa companheira de trabalho, ninguém menos que a mãe de Maria Rita: Elis Regina. Descreve a cantora como dona de um espírito solidário, capaz de presentear colegas com generosidade. A mesma Elis que faria Luiz Loy ficar um ano inteiro sem conseguir tocar uma nota, devido ao impacto de sua morte repentina há vinte e sete anos.

A conversa avança por outros assuntos, entre os quais a reestréia de Alf nos palcos paulistanos em janeiro. Dividindo o palco com as cantoras Alaíde Costa e Leny Andrade, o músico saiu do palco ovacionado pela platéia. O retorno se deu depois do seu difícil período de enfermidade no ano passado, que impediu a participação de Johnny nas comemorações do cinquentenário da bossa nova.

No espetáculo de janeiro, o artista soltou a voz e o tempo cantou, conforme o dito de Chico Buarque em canção do disco Paratodos. No hotel-residência em Santo André, Alfredo José da Silva agradeceu a visita, ganhando beijos e abraços de seus pares. Na volta a Piracicaba, continuei acreditando no ser humano por trás da música. Felizmente.

15 de fev. de 2009

Arte com crianças

No primeiro semestre do ano passado, a Dedini S/A Indústrias de Base me chamou para desenvolver o projeto "Viver é Demais!"

Em julho, nas oficinas de arte realizadas nas unidades Piracicaba e Sertãozinho, noções de segurança no trabalho expostas em palestra seriam ilustradas por filhos e filhas de funcionários da empresa.

Além de coordenar a criançada e selecionar os desenhos que compuseram a cartilha resultante da atividade, também criei o projeto gráfico da publicação.

É claro que não trabalhei sozinho na empreitada. As equipes da Dedini Serviço Social, Segurança e Medicina do Trabalho e Comunicação Corporativa estiveram em sintonia o tempo todo para organizar e estruturar o projeto.

Em agosto, uma festa na empresa marcou a manhã de autógrafos da cartilha. Impressa em cores, teve exemplares entregues a todos os participantes da atividade.

Os desenhos que ficaram de fora da cartilha puderam ser apreciados por pais e filhos numa exposição.

De resto, só tenho a agradecer à Dedini por ter apostado no meu trabalho, e às crianças participantes por terem apostado em mim.

11 de fev. de 2009

Levando confete

Seja pulando feito pipoca nos clubes, seja suando fantasiado na Marquês de Sapucaí, seja praguejando contra as siliconadas da vez diante da tevê, cada brasileiro tem as suas recordações de Carnaval. Também tenho as minhas.

Aos oito anos de idade, sem direito a piar, fui levado a um clube, junto a primos e irmãos escoltados por uma prima mais velha. Era uma matinê, sem os atrativos do Carnaval noturno. Se bem que a tal prima era uma atração à parte, mas isso eu só perceberia anos depois.

Dançando uma música por dançar, porque o pecado maior do Carnaval é ficar parado, tudo ia bem, apesar do meu corpo indicar o contrário.

Quando já me acostumava à ideia de sacolejar o esqueleto, veio um primo e me enfiou um punhado de confetes goela abaixo. Pego de surpresa, tive tempo de cuspir cinco ou seis rodelinhas, mas o estrago estava feito.

Vai ver que é por isso que até hoje eu deteste ficar jogando confete em quem quer que seja. Em todos os sentidos.

(Crônica mensal para o jornal Agora - Sertãozinho, SP)

NOTA ALGUNS ANOS DEPOIS: hoje até jogo alguns confetes, no bom sentido. Mas não os enfio goela abaixo, como meu primo fez comigo.

7 de fev. de 2009

Por aí

Por enquanto, as charges dão um tempo.

Em geral, faço mais esse tipo de trabalho no mês de janeiro, quando substituo o Erasmo, nas férias dele no Jornal de Piracicaba.

Hoje, além das tiras para jornais, escrevo as crônicas que vocês lêem aqui, viajo para dar minhas oficinas de arte e fazer caricaturas ao vivo em eventos.

Também têm aparecido alguns trabalhos totalmente inesperados.

Como diz o pessoal daquela lanchonete vermelha... amo muito tudo isso.

PS: decidi não postar a crônica de dezembro, a que faço todo mês para o Jornal Agora, de Sertãozinho. O texto saiu por demais melancólico, em razão da minha incompatibilidade com festas de fim de ano, e eu não quero encher o saco de ninguém com meu azedume. Desculpem.