9 de abr. de 2012

Saio da vida para cair na rede

Tchau, vida privada. Um estranho exercício, de cuidarmos da própria vida. De ficarmos quietinhos no nosso canto. De não nos metermos na vida alheia. De vivermos uma rotina de trabalho, de lazer, de risadas. De cuidar da família, dos bichos de estimação. De irmos à esquina tomar umas e outras. De viver e conviver. Com discrição, compostura e uma consciência saudável de um anonimato necessário.

Você viaja, faz um montão de fotos. Em vez de esperar pela volta, para mostrar aos amigos seus caminhos e descaminhos, num lugar nunca dantes navegado (e para deixá-los roxos de inveja da sua viagem), você não resiste e manda às redes sociais as suas andanças, minuto a minuto. Se perigar, sua câmera curtiu a viagem mais que você, o ansioso que não tirava os olhos da lente da máquina.

Você vai ao bar descolado da moda. E não descola da lente da tal câmera. Registra passo a passo do caminho da sua casa ao bar, e do bar à sua casa, devidamente calibrado pelas bebidas e aperitivos intermináveis. E coloca tudo nas redes. Trezentas e tantas fotinhas.

Churrascos de fim de semana, aulas na faculdade, festas de casamento dos amigos. Tudo, absolutamente tudo, alcança uma suma importância. Tudo bem: nada é mais importante que a sua nada vã existência terrena. Mas daí a ser antológica para o resto da humanidade, vai uma distância. A distância entre a pura e simples cara de pau e o exibicionismo carente mais deslavado.

Adeus, vida privada. Olá, iPad.

3 comentários:

Célia disse...

Prefiro a minha discrição e anonimato...
Bj. Célia.

Carla Ceres disse...

Por isso que eu levo marido a tiracolo, quando viajo. Eu vivo. Ele fotografa. :)

Aliz de Castro Lambiazzi **jornALIZta** disse...

Eu sou exibicionaista, Érico. Eu sou...rsrs. É gostoso, sabia? kkkkkkkkkkkk. Beijo