Adoniran Barbosa compôs aquela pérola chamada "Trem das Onze". A moçada do século vinte e um deve achar a canção coisa de avôzinho. Talvez porque seja interpretada pelos Demônios da Garoa, que parecem a dinastia do Fantasma, o Espírito que Anda: vivem morrendo e sendo substituídos, e o público nem nota.
O fato é que Adoniran morreu há décadas, e uma de suas últimas grandes intérpretes foi Elis Regina, que cantou com ele "Tiro ao Álvaro". Pena que ela também se foi: desta para uma melhor, espero.
E é aqui que eu queria chegar. Nas cantoras. E voltar ao especial da Globo.
O Som Brasil era um programa de Rolando Boldrin, exibido todos os domingos pela emissora, no começo da última década de 80. Depois de ter apresentador trocado - saiu Boldrin, entrou Lima Duarte - e sair do ar, o programa virou apenas uma marca.
O nome Som Brasil foi retomado pela Globo, para especiais mensais temáticos com artistas da MPB, vivos, mortos ou muito vivos. Se vivo, o homenageado canta alguns números para a platéia, geralmente velhos sucessos seus, revezando-se com novos cantores e cantoras.
Lembrei das cantoras e fiquei imaginando o que elas vão fazer com a obra de Adoniran Barbosa. A primeira coisa a ser limada nas interpretações será uma característica forte do compositor: o sotaque caipira. E isso me irrita pra mais de metro (me enfurece pra caramba).
Patricinhas e mauricinhos cosmopolitas odeiam ser associados a atraso, a involução, e sotaques denunciam tudo isso. Só irão cantar Adoniran porque é "clássico". Sabe como é: cantar clássicos confere credibilidade a carreiras ascendentes. Mesmo que, no fundo, elas prefiram cantar Caetano.
Cheio de esperanças na sensatez da humanidade, vou aguardar sentado mais esse programa Sono Brasil...
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