(Ao lado: uma charge de 5 de janeiro de 2008)
O que não falta é blog feminino à beira de um ataque de nervos. Graças a dicas amigas, virei um pesquisador informal da literatura cotidiana da mulherada.
Não deixa de ser interessante esse passeio, imóvel na cadeira da escrivaninha. O que dá pra notar, numa primeira olhada, é a transposição da catilinária oral das moçoilas para os caracteres virtuais.
Umas mais, outras menos, todas são autorreferentes. E todas tem em comum a eterna perseguição à cara-metade, além do secular desprezo aos insensíveis que não as valorizam. Eles mesmos: os homens, cujas doses de falastrice são bafejadas nos botecos da esquina.
Todas os blogs e blogueiras consultados esmiuçam sentimentos - seus e dos outros - com uma habilidade que deixaria Jung e Freud, cada um no seu quadrado, estupidamente pasmos.
Na qualidade de confidente amador de três ou quatro amigas cultivadas nas redes sociais, acabo de aderir ao estilo desabafo-blogueiro. A discrição habitual do autor vai chutar o balde, ao menos por breves linhas. É o momento de confessar algumas miudezas da minha rotina. E reclamar delas, é claro. Das miudezas, não das mulheres.
Copo sujo de café, por exemplo. Tem coisa mais chata que levantar de manhã e ver uma pia cheia de copinhos de vidro, daqueles parecidos com copos de patê? Eu gosto de café, mas não aprecio observar o rastro que o café deixou no fundo dos copos. Se o inferno é aqui, ele tem gosto de café expresso em copo deixado na pia. Pronto para que eu o lave.
O banheiro é outro cômodo incômodo. Quando a gente entra no box para a chuveirada matinal, emite o suspiro de bem-viver que acompanha os bons banhos. Mas o suspiro vira muxoxo imediato. O pé tateia o ralo, o ralo denuncia a presença de um punhado de cabelos, pelos e o que mais for de viscoso acumulado no dia anterior.
Solução: dar um breque no banho, catar aquela meleca e jogar no lixo. No banho seguinte, é a mesma coisa. Um esforço repetitivo, quase um ritual. Haja esforço mental positivo para não arrancar o ralo. Só pra não ter que ficar catando aqueles chumaços de cabelo que teimam em nos besuntar os pés, banho a banho.
Para não arrancar os cabelos que me restam, melhor parar por aqui. Os feios e bonitos que me perdoem, mas resmungar é fundamental.
3 comentários:
Parafraseando o cientista e lembrando-me de um tweet amigo, meu lema é: "reclamo, logo existo". E, se for reclamar de homem, então, melhor ainda!
Se nós, mulheres, ganhássemos dinheiro com isso, estaríamos todas felizes e bem de vida. O seriado que passei fala exatamente disso, não é mesmo? Fiquei com vontade de investir mais no blog, até o dia em que um produtor cultural o encontrar e me perguntar: "vem pra SP (ou Rio), nós vamos gravar uma série sobre o seu blog". Seria um sonho. Mostrar pro Brasil inteiro uma vida mais ou menos, com recheio sabor decepção-amorosa & tempestades-em-copo-d'água.
E, olha, se Freud e Jung estivessem me observando, gostaria de ver o orgulho nos olhos dele.
Beijos, Érico!
Às vezes tenho a impressão que só a mulher reclama do sexo oposto. Essa indiferença masculina para conosco é o que mais nos instiga a tentar não se importar (veja bem: tentar) com eles e ignorá-los da pior maneira possível. Pior mesmo é que nós não conseguimos, mas a gente vai tentando com a ajuda das amigas virtuais.
Mas não é só a irritação masculina não domina as mentes femininas, não. Sim, é muito irritante acordar de manhã e se deparar com uma pia cheia de prato, principalmente quando se está com muita, muita fome.
Querer vestir uma roupa e encontrá-la no cesto de roupa suja também não fica pra trás.
Só não resmungo mais porque eu não tô lembrando de muita coisa agora, mas também acho que é fundamental.
Até, Érico!
Alguém muito sábio já disse que o que mulher gosta mesmo é de reclamar. Rola até competição de reclamação: "meu namorado fez isso, isso e isso" versus "aaaaaah, mas você não sabe o que fez o meu no ano passado!". É assim.
Mas, se serve de consolo, a gente gosta mesmo de reclamar de tudo, não só de homem. :)
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