Viu o título? Eu avisei. Agora aguente, futura senhora Fulano de Tal.
Se casar dá um trabalhão, imagina o trabalho que é fazer caricatura para convite de casamento. Tá, você não imagina, então estamos aqui para contar.
O cliente tem sempre razão, e nenhum trabalhador ajuizado contraria a norma. Num casal, a mulher sempre tem razão.
Ela tem a eficácia para a escolha de seu par. A habilidade para envolve-lo numa aura de romance. A astúcia para faze-lo jurar amor eterno enquanto dure, feito um Vinicius de Moraes de quinta categoria.
E a decisão para coroar as atitudes anteriores: prensá-lo na parede, arrancando do ser amado a data do casamento.
Enxoval preparado, festa marcada, vestido comprado, prestações dos móveis feitas, buffet encomendado, chega a hora do mimo final: o convite! E já que se trata de um casal moderno, com aquele humor de seriado americano tipo Friends, nada melhor que uma caricatura no convite de casamento.
Ideia genial! Por que a noiva não pensou nisso antes? Ora, porque ela precisava ficar neurótica com coisas mais importantes, seu bocó. Bocozices à parte, a noiva sempre tem razão, aprenda isso.
Escolhido o incauto caricaturista para o retrato eterno do casal, começa a tortura... digo, o briefing. Fotos de fim de semana num churrasco, onde o casal está tão descontraído quanto um farofeiro se coçando em praia poluída, são enviadas ao caricaturista como referências para o desenho.
Nesse momento, o caricaturista arma-se de uma paciência infinita para transformar a cliente em Cinderela antes da meia-noite, se é que me faço entender. Você pode não entender, mas a noiva entende. Ela entende tudo.
Após trezentos e trinta e três rascunhos do casal, a noiva está no limite da resistência e o desenhista, no limite do prazo para impressão do convite. A cliente ora reclama que está “feia”, ora se queixa que não tem “um nariz desse tamanho”, ora para que o caricaturista não a transforme em bruxa velha.
Pérolas e mais pérolas semelhantes depois, o artista sentindo-se pressionado como uma ostra fechada, chega-se a um acordo entre as partes, mais pelo cansaço do caricaturista que pela satisfação da noiva.
Convite impresso, casamento consumado, festa acabada e músicos a pé, o casal embarca no cruzeiro pago em reais a perder de vista, como o horizonte a ser contemplado na lua de mel.
E o caricaturista, como prêmio pelos serviços prestados, recebe um cheque para o dia de São Nunca, o protetor dos artistas otários.
Depois desse texto, onde o cliente tem suas razões para ter sempre razão, acho que nunca mais me encomendarão uma caricatura para convite de casamento.
Ou pior: não haverá mulher que me bote na parede para arrancar promessa de casamento.
3 comentários:
Muito bom o texto Érico. Ri muito e me lembrei de alguns trabalhos por encomenda que quase me fizeram ter um ataque dos nervos. Abs.
Obrigado, Marcos! Não costumo fazer esse tipo de texto, falando de trabalhos e relações com clientes, mas achei um bom assunto para crônica. Legal você ter gostado. Abraço também.
Hilário! Adorei o texto! Nada romântico e um tanto realista.
Postar um comentário