7 de fev. de 2011

Se elas dançam... eu danço

Pra ir ao cinema sozinho tem que ser muito macho. A última vez que cometi essa façanha foi na sequencia de Tropa de Elite. Na sala de cinema, meus inimigos não eram os políticos que azucrinaram a vida do Capitão Nascimento. Meus algozes atendiam pelos nomes de solidão e raiva. Só estando muito só, e muito danado da vida, pra se atrever a acompanhar um filme desses desacompanhado.

Meses depois, já com Tropa de Elite 2 fora de cartaz, voltei ao cinema com outro estado de espírito. E com uma companheira muito espirituosa ao lado. O filme da vez, Cisne Negro, contou a história de uma bailarina dedicada a ser a estrela do espetáculo homônimo do filme.

Inocente, pura e besta, a garota Nina é cercada por uma mãe dominadora, o diretor do espetáculo, uma bailarina amiga da onça... só gente fina, inclusive as anoréxicas bailarinas secundárias que enfeitam as cenas dos ensaios.

Como toda workaholic sem-noção, a bailarina espera ganhar o papel principal apenas por sua competência, coitada. O diretor do espetáculo tira isso rapidinho da cabeça dela, usando de métodos nada ortodoxos para estimular a bailarina. Os estímulos você confere no filme, que contá-los aqui é sacanagem.

Grudado na poltrona, mas escaldado por décadas de clichês hollywoodianos, cochichei à acompanhante: “Essa menina aí, se quiser ganhar o papel, vai ter que soltar os bichos”. Dito e feito: em meio à tensão do processo, a personagem despeja no lixo todos os seus bichinhos de pelúcia.

Os demônios interiores da balilarina também se manifestam por meio de coceiras nas costas, dedos das mãos em carne viva, ecstasy bebido com uísque na balada, tentativa de suicídio de uma bailarina aposentada bem no nariz da novata. Acontecimentos no limite entre a alucinação e o real. A essa altura, reais mesmo eram o suor, jorrando das minhas mãos, e os olhos tapados da companheira, nas cenas onde o sangue jorrava.

Mesmo com o stress acumulado, e também por causa dele, a bailarina consegue estrelar o Cisne Negro, numa noite antológica. Pena que o filme não tenha um desfecho terapêutico, daqueles para deixar a plateia aliviada.

De chatos, além das cobras e lagartos que cercavam a protagonista, closes na atriz principal pipocavam a todo instante. Um recurso para acentuar a tensão do enredo, claro, só que isso fica com cara de novela da Globo, desculpa aí. E as cenas pareciam filmadas por câmeras com mal de Parkinson, outro recurso para aumentar o nervosismo. Filme é pra provocar emoção no espectador, não úlcera. Perdão de novo.

Nem Tropa de Elite tinha me deixado tão abalado. Olha que escolhi esse filme porque minha companheira da vez começou a fazer aulas de dança de salão...Pra ver filme de balé que mais parece filme de terror, também tem que ser muito macho. De preferência, com uma moça ao lado pra fiscalizar seu eventual escorrer de lágrimas, feito torneira vazando.

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