11 de fev. de 2011

Noiva, não leia isso, pelo amor de Deus

Viu o título? Eu avisei. Agora aguente, futura senhora Fulano de Tal.

Se casar dá um trabalhão, imagina o trabalho que é fazer caricatura para convite de casamento. Tá, você não imagina, então estamos aqui para contar.

O cliente tem sempre razão, e nenhum trabalhador ajuizado contraria a norma. Num casal, a mulher sempre tem razão.

Ela tem a eficácia para a escolha de seu par. A habilidade para envolve-lo numa aura de romance. A astúcia para faze-lo jurar amor eterno enquanto dure, feito um Vinicius de Moraes de quinta categoria.

E a decisão para coroar as atitudes anteriores: prensá-lo na parede, arrancando do ser amado a data do casamento.

Enxoval preparado, festa marcada, vestido comprado, prestações dos móveis feitas, buffet encomendado, chega a hora do mimo final: o convite! E já que se trata de um casal moderno, com aquele humor de seriado americano tipo Friends, nada melhor que uma caricatura no convite de casamento.

Ideia genial! Por que a noiva não pensou nisso antes? Ora, porque ela precisava ficar neurótica com coisas mais importantes, seu bocó. Bocozices à parte, a noiva sempre tem razão, aprenda isso.

Escolhido o incauto caricaturista para o retrato eterno do casal, começa a tortura... digo, o briefing. Fotos de fim de semana num churrasco, onde o casal está tão descontraído quanto um farofeiro se coçando em praia poluída, são enviadas ao caricaturista como referências para o desenho.

Nesse momento, o caricaturista arma-se de uma paciência infinita para transformar a cliente em Cinderela antes da meia-noite, se é que me faço entender. Você pode não entender, mas a noiva entende. Ela entende tudo.

Após trezentos e trinta e três rascunhos do casal, a noiva está no limite da resistência e o desenhista, no limite do prazo para impressão do convite. A cliente ora reclama que está “feia”, ora se queixa que não tem “um nariz desse tamanho”, ora para que o caricaturista não a transforme em bruxa velha.

Pérolas e mais pérolas semelhantes depois, o artista sentindo-se pressionado como uma ostra fechada, chega-se a um acordo entre as partes, mais pelo cansaço do caricaturista que pela satisfação da noiva.

Convite impresso, casamento consumado, festa acabada e músicos a pé, o casal embarca no cruzeiro pago em reais a perder de vista, como o horizonte a ser contemplado na lua de mel.

E o caricaturista, como prêmio pelos serviços prestados, recebe um cheque para o dia de São Nunca, o protetor dos artistas otários.

Depois desse texto, onde o cliente tem suas razões para ter sempre razão, acho que nunca mais me encomendarão uma caricatura para convite de casamento.

Ou pior: não haverá mulher que me bote na parede para arrancar promessa de casamento.

3 comentários:

o idiota feliz disse...

Muito bom o texto Érico. Ri muito e me lembrei de alguns trabalhos por encomenda que quase me fizeram ter um ataque dos nervos. Abs.

Érico San Juan disse...

Obrigado, Marcos! Não costumo fazer esse tipo de texto, falando de trabalhos e relações com clientes, mas achei um bom assunto para crônica. Legal você ter gostado. Abraço também.

Raquel Quintão disse...

Hilário! Adorei o texto! Nada romântico e um tanto realista.