O texto abaixo saiu na revista Fusão Cultural, em abril de 2010. Era uma seção chamada "Arte é..." Intrometido que sou, tratei de responder à pergunta nas linhas que se seguem. A seção saiu com uma imensa foto minha. Por não ser chegado a retratos ao estilo-Caras-e-bocas, deixo-os com uma vinheta ligeiramente inócua, a título de ilustração, do autor dessa postagem.
Desde criancinhas, somos gentilmente coagidos a responder aos mais velhos. Na escola, os mais espertos já sabiam responder o que era arte. Não por pensar no assunto, e sim depois de alguma molecagem, quando os estressados professores ralhavam no ato: “Para de fazer arte, menino!”
Para uns poucos aluninhos, “fazer arte” era preencher folhas e folhas de papel com rabiscos abstratos, no estilo do que alguns continuam fazendo quando adultos. Escolas e mais escolas, de arte ou não, já antecipam respostas a essa questão, colocando seus alunos em contato com mestres da pintura, de preferência já mortos. E dá-lhe pastiches de Portinari, Picasso e outros menos cotados na bolsa de estudos - ou bolsa de valores?
Se o contato precoce com as artes ajuda a formar futuros artistas, ou alimenta uma formação humanista decente, é difícil de medir com exatidão. Mas que dá trabalho regular para muito professor, ah, isso dá. Para estes cidadãos, arte é isso: um emprego.
À revelia dos professores e pais corujas, a arte continua e as crianças crescem. E a internet chegou para democratizar a informação, ou quase. O aviso sobre a última megaexposição vanguardista em São Paulo, ou a respeito da recente vernissage da pintora de naturezas-mortas, continua nas mãos de meia dúzia de privilegiados. Estes fazem parte de uma elite que se comporta feito as multidões dependentes do Bolsa-Família, principalmente na hora de devorar os generosos coquetéis oferecidos pelos eventos. Para estes, arte é isso: um evento.
E para este que vos escreve, qual é a resposta possível à marota perguntinha? A arte pode ser informação, estética, trabalho. Mas a resposta final é uma palavrinha tão comum a todos e tão inalcançável a alguns: prazer. Arte é prazer. E se puder ser um prazer não-solitário, melhor ainda.
Um comentário:
Infelizmente, Érico... em nossos conteúdos programáticos... defasados e obsoletos... a ARTE é segundo plano... Pano de fundo nas festas infantis, juninas, natal, dia das mães, religiosas... Há um profundo analfabetismo no quesito ARTE! Doi na alma quando se ouve comentários tipo: - o que é isso, menino? O que você fez? E, vê-se estampado no rostinho da criança o desapontamento. Há pais e professores que sequer dominam a "arte de ter-se uma criança diante dos olhos!" Futuros adultos engessados na expressividade.
Abraço, Célia.
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