6 de abr. de 2010

Em vez de Páscoa, rock rural

Teve chuva e frio no domingo passado, além do feriadão de Páscoa. Um ser humano normal ficaria em casa, rodeado de familiares, enchendo a pança de bacalhau e chocolate.

O escritor destas maldigitadas foi literalmente mais longe: viajou quase duzentos quilômetros para ver Sá e Guarabyra em São Paulo, no Sesc Vila Mariana. Era o segundo show de lançamento do CD Amanhã, gravado com o falecido Zé Rodrix (programa do espetáculo ao lado, clique para ampliar).

A falta de chocolate na pança deve ter retardado a percepção do meu direito de ir e vir. Cheguei em cima da hora de um show que começava às seis da tarde, achando que começaria às sete da noite. Se o funcionário do Sesc não tivesse me dado um "psiu", me convocando a entrar no teatro, eu iria ouvir apenas o barulho dos meus passos de volta ao metrô mais próximo.

Após a busca da cadeira especialmente reservada, bem no meio do teatro, deixei as malas embaixo dela e contemplei a entrada da dupla no palco, junto à banda (Pedrão Baldanza no baixo, Fábio Santini na guitarra, Constant Papineanu nos teclados e Alexandre Soares na bateria).

No palco, só dava cabelo branco, a começar pelos cabelos dos cantores e compositores Luiz Carlos Pereira de Sá e Guttemberg Néri Guarabyra. Sá e Guarabyra para os íntimos: nada menos que toda a platéia. Esta também de cabelos brancos, alguns tingidos.

Sá é o front-man da dupla. Nos intervalos entre as canções, ele desfila seu charme de jornalista, ex-funcionário do Itamarati e compositor consagrado do Rock Rural. O rótulo, aliás, é a única coisa que parece tirar seu humor.

Já o humor do parceiro Guarabyra parece inabalável. E a única coisa que parece tirar o humor do autor de Casaco Marrom é atender fãs após o espetáculo. Terminada a função, o cabeludo compositor faz as vezes de "peixe ensaboado", segundo a língua ferina de Sá: desaparece rapidinho.

Zé Rodrix é o grande ausente da noite. Tem uma presença vital no CD Amanhã, o terceiro de músicas inéditas do trio, um reencontro após três décadas. Após a separação, Sá e Guarabyra seguiriam em dupla, Zé seguiria para a carreira-solo e a publicidade.

Os parceiros dedicam o show a Rodrix, óbvio. E cantam o clássico Casa no Campo, de Zé e Tavito, com direito a presença do último na platéia. Evitam as canções roqueiras que o parceiro lançou no próprio trio (Hoje é dia de Rock, Mestre Jonas). Mas arriscam interpretar um solo dele no CD Amanhã (a faixa-título).

O desfile de clássicos de Sá e Guarabyra domina a noite, com a presença da banda e sem ela, em números-solo, voz e violão, dos dois parceiros, em momentos distintos. Os hits mais esperados deixam os fãs desesperados pela demora em ouvi-los (Roque Santeiro, Dona, Sobradinho, Espanhola). Como se essa estranha espécie não suspeitasse que a apoteose final se daria com tais canções.

Ao fim e ao cabo do espetáculo, os parceiros se abraçam, os fãs vão para o saguão tirar as fotos ao lado dos ídolos, e eu vou ao encontro da primeira metade da dupla, já que a outra metade tinha se mandado. Faço uma caricatura de Tavito, o compositor de Rua Ramalhete e produtor do CD Amanhã (foto de Marlene Alves, ao lado), e me mando.

Posso não sacar nada de música, muito menos de rock, mas alma rural é comigo mesmo. Piracicaba que o diga. Ou melhor, digo eu mesmo no meu sotaque piracicabano. Sá e Guarabyra também me dizem muito, ainda.

4 comentários:

Pedrão do Som Nosso disse...

Me é muito gratificante acompanhar Sá e Guty por estas estradas por muito tempo e espero estar por mais tempo ainda nesta caminhada.
A importancia da rapaziada que os acompanha deve ser também enaltecida!
Não vamos esquecer de comentar !
Somos parte do espetáculo !
Atenciosamente

Érico San Juan disse...

Pedrão, já incluí os nomes dos músicos do show no artigo. Falha nossa, ou melhor, minha. Obrigado pelo puxão de orelha. Abração.

Pedrão do Som Nosso disse...

Érico ! Obrigado pela retificação! Vc compreendeu por ser um crítico sensível.
Repare vc também que , na maioria das reportagens e críticas sobre espetáculos musicais em geral esse detalhe que acredito ser muito importante para o show é completamente esquecido !
Parece ser uma cultura iniciada no Brasil na década de setenta nas próprias contracapas dos antigos elepes, onde pouca ou nenhuma informação havia sobre quem e quantos músicos haviam participado do trabalho.
E veja !! Lembro muito bem que a desculpa era a economia de textos ( diagramação) no disco ! como se isso fosse encarecer o produto !!
Muito obrigado por ter me escutado meu bom !!
Atenciosamente

Érico San Juan disse...

Pedrão, eu fiz a diagramação do CD Amanhã, e também lá tinha pouco espaço... mas isso não é desculpa, ao menos pra mim. Vocês, músicos, merecem todo o respeito: meu e do respeitável público. Abração.