14 de mar. de 2009

Toscos e felizes

Tem ruindades que a gente aceita na boa. Não chego ao exagero de achar que tudo que é tosco é bom, mas certas ruindades têm lá seu charme, mesmo que essa virtude seja sempre questionável.

Como tenho muita simpatia pela chamada cultura de massa, vou me limitar ao relato de certas ruindades vindas dela.

Vejam o Tiririca, por exemplo. Antes do fim do século passado, quando cantores de sucesso ainda vendiam milhões de discos, o clone do falecido Zacarias fez um disco independente no Nordeste e foi descoberto por um desses produtores com grande tino comercial (ou olho gordo para sucessos, dependendo do ponto de vista).

Rapidamente, o ex-banguela lançou um CD com a inesquecível canção Florentina, um prodígio de concisão musical e agressão ao bom português (a língua, não o bigodudo dono do boteco da esquina).

Após seu sucesso efêmero, o palhaço estilo cirquinho de periferia emplacou uma carreira de humorista na televisão. Em suas performances, ri mais que o próprio espectador. Este, por sua vez, chora de saudade do Zacarias.

E o Roberto Justus? Não bastasse ele ser objeto de chacotas de noventa por cento dos humoristas nacionais, por causa da pose de bom moço somada à emoção de um manequim de vitrine, demitiu outros candidatos a bons moços e boas moças em plena arena televisiva, às vistas de uma seleta audiência. Provavelmente composta de ricos ou desempregados, dado o horário avançado do programa.

Dando sequência aos atos inusitados fora do seu ambiente normal de trabalho, o publicitário gravou um CD como cantor, somente com clássicos da música internacional. Para repartir o pagamento de tamanho mico, chamou Afonso Nigro, ex-integrante do grupo Dominó, famosa boy band dos anos 80. Ter sobrevivido às unhadas e gritos de adolescentes enlouquecidas já torna Afonso um especialista em tarefas ingratas, como a produção do mais bem cuidado CD de cantor de churrascaria da atualidade.

Justus é ousado, sem sombra de dúvida. Mas ter lançado o CD por uma gravadora multinacional deve ajudá-la a se aproximar cada vez mais da bancarrota.

Daria para listar muitos outros toscos. Pena que levantar essa lebre provoque discussões acirradas e surras homéricas entre facções rivais, feito um clássico Palmeiras versus Corinthians, com direito a Ronaldo se arrastando pelo campo. Por via das dúvidas, melhor apitar o final da partida e colocar a lebre no chão. E zerar o estoque de metáforas, tão toscas quanto os personagens desta crônica.

(Caricaturas e texto: Érico San Juan)

2 comentários:

Anônimo disse...

O Justus só deve ter conseguido gravar e distribuir o CD graças aos inúmeros contatos que ele deve ter no meio. Acho que ser proprietário de uma grande agência de propaganda ter um programa em uma emissora de TV devem ter permitido uma generosa dose de paciência de muitos para com este projeto pessoal. Talento musical é o que menos importa.

SPACCA É... disse...

Érico, cadê o serviço ao leitor? Os visitantes precisam saber onde podem encontrar o CD do Justus, bota link nas matérias...
(até pra conferir se o cara canta tão bem quanto vc diz ou se é dor de cotovelo :)
bração
sp