Comer milho é que nem chupar manga. Você sabe que vai ficar com fiapo nos dentes. Os ditos fiapos durarão uma vida na sua boca. Você jamais conseguirá tirá-los. Uma boca com pedaços de arame farpado entredentes. Todos os palitos e fios dentais de todas as galáxias não bastarão para acabar com o suplício. Mesmo com tamanho infortúnio, que pode ser eterno enquanto dure, você vai e come o milho, a manga e outros alimentos prazerosos porém incômodos.
Tanta coisa que a gente come mesmo assim. Porque mãe manda a gente comer. "Você tem que crescer, tem que comer verdura"! E tem tanta gente aí, criançola, que praticou a sublime pop art do trash food. Sanduíche tem verdura também, tudo bem. Mas em geral coisas proibidas a gente come fora de casa. O que é trash a gente não coloca pra fora, na calçada, pro lixeiro levar? Não por acaso, os restaurantes de sandubas assassinos ficam nas esquinas. Só que os restaurantes levam a gente pra dentro deles, não pra fora.
A gente adoraria colocar muita coisa pra fora. Mas engole. A introdução de anfíbios goela abaixo é algo corriqueiro em tempos tortuosos. Furacões com nomes de cantoras de sotaque-pop-com-crise-dos-30 abundam. E cantoras com sotaque-pop-etc-e-tal adorariam ter o impacto de furacões, na cena abundante da música atual. Já o cenário atual fabrica pântanos e lagoas para farta reprodução dos batráquios verdejantes. Se não houver condições para reprodução dos sapos, de que forma conseguiremos ingeri-los? Afinal de contas - e das contas que chegam sem parar - o equilíbrio ecológico deve ser mantido.
Engolir sapos, mais que uma necessidade da natureza, é esporte nacional. E a natureza do brasileiro, encarar esporte como se fosse batalha? Queria ver o brasileiro médio, do alto de sua barriga de churrasco e cerveja, encarar o desafio do futebolista médio ganhador de um salário baixo. Esse torcedor é capaz de torcer o pescoço do escravo dos campos: esse que pode ganhar uma partida mas mal ganha pra comprar um tênis da Nike. O mundo não é só feito de jogadores fantásticos que suam a camisa pra emagrecer. Aliás, nem é composto tão-somente de torcedores mimados e ébrios.
Antes que a maionese desses palpites azede, atraindo mosquitos em toda a cozinha onde a picanha esfriou, é melhor meter o pé na estrada, que o feriadão acabou. Com fiapo no dente e tudo.
2 comentários:
Pé na estrada e um bom fio dental que a segundona bate na porta! E, salve-se quem puder!
Bj. Célia.
kkkkk Ave Maria, que a revolta bateu forte hoje! Adorei os "batráquios verdejantes", Érico. Aliás, o título do texto já é o Cão chupando manga. :) Parabéns!
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