A vida de minha geração não foi em van. Foi de kombi.
Aquele carro gigantesco, que andava aos trambolhões. Vinha a lombada, o carro chacoalhava inteiro: os bancos, a lataria, os passageiros. Quantos neurônios perdidos nas viagens em carro de parente.
Crianças não tinham direito à palavra. Mas não dava pra falar nada, o barulho da kombi em trânsito não deixava. No máximo, adultos aos gritos no banco da frente. Aquele banco invejado pela molecada. Estar no comando era ser adulto. Só que com um carro melhor, a gente esperava quando crescesse. Um fusca azul escuro igual ao do pai.
O tempo deixou para trás as kombis, vieram as vans. O adulto aqui entrou em várias, indo e vindo de lugares onde nenhum humano jamais estaria, igual os lugares onde a parentada nos levava de kombi. Van, um carro compacto até demais. Tanto quanto um fusca, que se tornou bettle (e não beatle).
O chato da van é a sensação de sermos sardinha em lata em trânsito. Ou atum enlatado? Pode-se ir a museus, a zoológicos, instituições que todo mundo finge que gosta. Na van, a gente chega a elas com as costelas quebradas. Agora você sabe: o gemido diante da tela do pintor famoso, da exposição da moda, não é de satisfação. É de dor pela viagem inesquecível no veículo nanico.
Não que o fusca azul da família feliz não fosse apertado. Era. Fins de de semana com o carrinho, só dois por mês. Nos outros, o fusca ficava com o sócio do pai. Um carro meio a meio! E a vontade de possuir um fusca amarelo? Um dia, a gente chega lá, pela via das dúvidas. E das dívidas no consórcio. Com direito a lombadas no meio do caminho. E algum avanço no sinal vermelho, mais ou menos autorizado pela musa da vez.
2 comentários:
Ri muito com sua crônica... pois tive e muito tal experiência... Depois de um Ford 48... meu pai foi motorista de uma Kombi... Detalhe: - com esta eu aprendi a dirigir (ou ser dirigida)... Hoje, ao ver toda essa modernidade tecnológica dirigíveis, tenho saudade da velha Kombi! Era diversão garantida! Não precisava de Disney... Valeu, Érico!
Bj. Célia.
Oba, as crônicas continuam! Essa trouxe um monte de lembranças, Érico. Uma das coisas mais legais da minha infância era viajar no compartimento de bagagem de um fusquinha vermelho. Valeu. Beijos!
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