25 de set. de 2011

Careca de saber

Vocês sabem como são as mulheres. Quando elas querem alguma coisa, vão até o fim.

Um dos objetivos das mulheres da minha sagrada família é a interrupção da minha calvície. Só que a calvície insiste em contrariá-las.

Moleque, saltitante e feliz, os cabelos do garoto que fui eram como os da minha mãe. A cabeça era coberta pelos fios suaves do DNA materno. Por bons anos, um tom castanho-escuro compunha a cabeça do nerd que só queria saber de gibis e desenho e afins.

Essa cabeça escurecida, que de modo algum queria ser obscura, alcançou os dias indecisos da adolescência. E a indecisão chegou ao auge com a decisão impossível: encrespar os cabelos. De encrespado, mesmo, só o temperamento do cidadão exótico.

E veio a idade adulta. A idade da razão, a idade em que suas razões parecem inquestionáveis. As mulheres da família ficavam mais e mais alarmadas, ao observarem meus cabelos em estado de revolta permanente, manifestada pelos insurgentes com a fuga da minha cabeça.

Adiantava me vangloriar de uma cabeça supostamente privilegiada, teimando em fugir do analfabetismo funcional, se os cabelos não pensavam o mesmo? Nós, eu e meu cérebro, chegávamos ao dilema-Tostines: a cabeça ficava quente porque os cabelos caíam, ou os cabelos caíam por conta da cabeça quente?

Ó, dúvida cruel. Pena que os cabelos não tinham a menor dúvida em abandonar o crânio.

O tempo passou, que ele sempre passa. Depois de inúmeros banhos, cabelos caindo ralo abaixo e fugas premeditadas do espelho, chegou o momento de encarar a dura realidade. A cabeça do adulto genioso dispunha de um mísero chumaço irregular bem na frente da testa.

E o dilema continua. Valerá a pena domar o chumaço solitário com gel, para que ele não se perca ao vento?

Ter ou não ter um tufo indomável na testa, seu Shakespeare? O senhor dramaturgo era careca, ao que me consta. A caveira da peça Hamlet também...

Um comentário:

Carla Ceres disse...

Já o objetivo desta mulher que vos escreve é reclamar pela ausência de seus traços faciais no desenho. Cadê olhos, nariz, boca? Foram embora também? Eu sabia que tanta maratona de caricatura ia acabar em preguiça de desenhar. :)