Não tem horas que dá uma vontade louca de virar uma pulga, pra passar despercebido diante da multidão?
Pois é. Isso aconteceu comigo, e justo num espetáculo de circo de pulgas. Se você não entendeu, por favor dirija-se ao próximo parágrafo. Nem precisa retirar ingresso na bilheteria.
Uma companhia de teatro carioca veio a Piracicaba encenar espetáculo num teatro que traz teatro e música o ano todo, de graça.
As matinês de alguns sábados do ano costumam abrigar peças infantis. E criança é o que não falta nessas sessões-pipoca. É possível medir a presença desse público a quarteirões de distância do lugar. Pelos decibéis de entusiasmo.
Superada a fila e os avisos de boa educação da equipe do teatro, chega a hora da função.
Um ator desempenha a função de mestre de cerimônias, com direito a cartola e fraque típicos dos picadeiros - só faltou a barriga saliente de desenho animado. Outros dois atores fazem as vezes de assistentes de palco.
A sensação da exibição de um legítimo circo de pulgas, com todo os recursos cênicos possíveis, era transmitida com perfeição aos espectadores infantis e adultos. E dá-lhe "pulgas" trapezistas e cantoras, argentinas e espanholas...
“Só não trouxemos pulgas brasileiras”, disse o MC, no final, à senhora gorda na primeira fila. “Se a senhora quiser, pode preencher uma ficha lá fora. Pra fazer um cadastro da sua pulga, tá?”
As risadas não superaram o rubor nas faces rotundas da espectadora. No entanto, os primeiros sorrisos vieram no clímax comum a qualquer peça de teatro contemporâneo: a interação com o público!
Na ribalta, o mestre de cerimônias anunciou que uma das pulgas do espetáculo saltara platéia afora. Luzes acesas, o MC apontou o dedão em linha reta, na direção adivinha de quem.
Como uma pulga acuada antes do banho no cão hospedeiro, remexi as cadeiras no assento aveludado. Sem direito a latir, subi ao palco.
O que é a vida. Tive que rir das piadas do ator-condutor do show, tive que fingir que urrava de dor na operação "retirada de pulga de couro cabeludo". O que o MC tirou de verdade foi caspa, mas isso foi um detalhe tão pequeno de nós dois...
No fim e ao cabo da operação, vieram as palmas e os assobios. E eu passei o resto do show amaldiçoando os deuses do teatro, do circo e de quem aparecesse na minha frente.
Meia hora após o mico, espetáculo terminado, saí a passos largos do teatro. Numa próxima vez, prometo habitar o canto mais escuro possível do local. Se possível, sendo confundido com as pulgas que habitam as poltronas normalmente, sessão após sessão.
Um comentário:
Hahaha... Aconteceu comigo, quando levei meu sobrinho no circo. O palhaço me chamou ao palco. Paguei mico, claro. Até rebolei. Abs.
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