25 de jun. de 2011

Chico e suas chorumelas chiques

Juro. Eu queria falar bem do Chico Buarque. Não vai dar.

Na última semana, alastrou-se pela internet a nova canção do novo CD de Chico Buarque, singelamente intitulado com o apelido do artista: Chico. Após tantos vinis cravados na história da MPB, um novo disco do carioca até cai bem em plena era do MP3.

O CD anterior, por sinal, se chamou "Carioca". Como se alguém, a essa altura do campeonato ganho pelo Politheama, duvidasse da cidadania fluminense do torcedor do time homônimo.

Assim como a cor de parte do uniforme do time do homem cordial, o filho de Sérgio Buarque possui olhos de cor verde. Olhos que garantiram parte do público inicial de Chico, lá nos míticos anos 60 do século passado.

As agora senhoras de meia-idade não queriam saber se o garotão tinha influências da Bossa Nova. Se largara a Faculdade de Arquitetura, se morria de timidez. Ou se fora empurrado à força para cantar no palco de um dos festivais da TV Record.

Os festivais acabaram, veio a ditadura militar. E a fama de Chico Buarque foi dividida com a fama de Robin Hood sufocado pelos milicos. Vieram as canções censuradas como "Apesar de Você". Os discos antológicos como "Construção", "Meus Caros Amigos" e "Calabar".

À beira dos quarenta anos, veio mais, além da idade da razão. A calmaria da abertura política. O relativo silêncio forçado pela onda do pop-rock-carbono praticado pela geração 80. E o envelhecimento: afinal, nem Chico Buarque é um Homem de Ferro.

Nos últimos CDs, o poeta tem navegado pelas águas calmas da "melhor idade". Até aí, nada demais. Um dia teremos todos a mesma aura crepuscular, a mesma capacidade de resmungar a respeito do nosso fim de linha. E as mesmas dores nas costas.

Mas sempre há um porém, e uma bateria de perguntas nada retóricas.

Será que as fãs do Chico anterior têm paciência para aturar seu tesão honorário falando desse crepúsculo? Quiçá toleram a ausência absoluta de qualquer traço de samba em sua obra atual? Porventura aguentam a influência jobiniana escancarada no cancioneiro recente do velho Francisco?

Eu sei, eu sei. Nenhum songbook recente, por mais lamentoso, impedirá que uma senhora, plantada na primeira fila do novo show de Chico Buarque e escorada por filhos e netos, grite elogios impublicáveis ao artista.

No entanto, quero crer que a credibilidade angariada pelo trovador-jogador se deva aos serviços prestados em priscas eras. E não ao repertório de agora.

Bem que eu avisei. Juro que adoraria falar bem do Chico Buarque. Já que não contive a soltura de minha língua, o jeito é encarar a dura realidade. Descrita não num querido diário, mas num blog mesmo. O que dá na mesma.

Um comentário:

Isa disse...

Não acompanho muito a música do Chico. Mas gosto da poesia dele. Também não sou fã e não grito "tesão" no show. Hahaha! Aliás, nunca pagaria R$ 140 por uma meia entrada (como ele fez aqui em Curitiba, certa vez). E justamente ele que queria cultura para todos.

Muito bem escrito o texto, sempre cuidando com as palavras :)

Beijos!