Outro dia me queixei dos meus interlocutores telefônicos. Esse pessoal não me ouve direito e repete variantes do meu nome de batismo. Não xingamentos, mas corruptelas. Se bem que dizer "corruptelas" já parece um xingamento. Mas não é disso que quero falar.
Nos dias atuais, me dou ao direito de reclamar em voz alta. Resmungar, jamais. Se há algo que aprendi nesta vida malvada, é que o simples ato de se queixar não garante direitos ao reclamante. O ato exige ouvidos atentos a tal proeza. Se reclamada em altos brados, melhor ainda. O respeitável público pode até reclamar do volume do reclamão, mas jamais o ignorará.
Uma volta no tempo reforçou essa convicção. Dos sete aos vinte e cinco anos, fui um cidadão tímido de doer. Descontado o fato de que eu preenchia o tempo disponível preenchendo cadernos escolares, ora com lições de casa ora com gibis de próprio punho, não me dava ao luxo de abrir a boca para dizer gato, quanto mais para chamar um.
Essa timidez me protegia do mundo, mas o mundo não queria saber de me proteger. Na escola, eu era chamado de todos os nomes possíveis. E dá-lhe apelidos, os mais criativamente perversos. Bem mais criativos que meus próprios gibis, desenhados com esferográfica preta.
Passados vários anos, eu ia ao curso de Radialismo, especialização em locução, vejam vocês o progresso do tímido aqui. Duas colegas de sala me davam carona, e uma delas se referiu a um tal Bullyng. Perguntei o que era. Ela me respondeu descrevendo a prática do parágrafo acima. Já perdoei os algozes involuntários da minha infância, mas ignorava o estrago que o Bullyng causa em outras crianças.
Essa história de dar nome aos bois sem consultá-los marca mesmo. E a marca pode ser eterna, feito um nome na certidão de nascimento.
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