(Crônica publicada no Jornal de Piracicaba)
Ser brasileiro tem qualquer coisa de sublime. Pela simples razão de estarmos habituados a isso. Para justificar a brasileirice crônica, cada um tem sua razão, ou falta de.
Para muitos, ser brasileiro é não desistir nunca. Não desistir de torcer pela seleção, ou pelo seu time. Não desistir da idéia de torcer o pescoço do técnico do Corínthians, quando o time perde. Porque o Corínthians tem a obrigação de ganhar, e os outros times de perder, lógico. E não pode desistir, nem fugir da raia. Mesmo que ameaçado de perder a pose, e, pior, a vaga na Série A do campeonato brasileiro.
Um time de futebol é composto, em sua maioria, de jogadores brasileiros. Vocês sabem, brasileiro não desiste nunca. Vai que pinta uma convocaçãozinha pra Seleção, e aí eles se tornam brasileiros de verdade, com muito dinheiro no bolso e saúde pra dar e vender, principalmente vender.
Para outros tantos, brasileiro é ser pagador de impostos. Não há opção, é tudo imposto. A receita é pagá-los, senão a Receita Federal manda o Leão morder nossas canelas. Como o mico-leão e o técnico de garras afiadas, o Leão também é brasileiro. E não desiste, nunca.
Seja natural, naturalizado ou artificial, o gostinho de ser brasileiro persiste em milhões de almas deste país. Gosto de cerveja estupidamente gelada, degustada por motoristas estupidamente bêbados, saídos das baladas para as páginas policiais. Ou gosto azedo de fim de domingo, quando se anuncia o fim do Fantástico e o começo da segunda-feira estupenda, quando não estúpida.
E assim o brasileiro vai levando a vida. Uma vida para o buraco, que a estrada da vida é mal-recapeada, construída por uma empreiteira que superfatura às nossas custas. Ou vida rumo à ponte que partiu, pois a mãe da gente não merece a outra ofensa de som parecido.
Entretanto, nada se compara à garra, à paciência, à resignação e à coragem do brasileiro. Um ser que não desiste nunca, inclusive de ler este texto. Você não é um analfabeto funcional! Parabéns! Nem parece brasileiro...
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