24 de nov. de 2014

A artista do invisível

Uma coisa puxa a outra. Uma arte puxa a outra. E uma pessoa puxa a outra. Foi assim com Malu Bragante.

Tomei contato com o trabalho da artista de Campinas por meio do guitarrista Alexis Bittencourt, que tocou com Johnny Alf, o precursor da Bossa Nova. Alexis lançou o DVD e o show-tributo "Luz Eterna", com os clássicos do mestre.

Nos segundos finais dos clipes do projeto de Bittencourt no YouTube, havia um desenho simples e expressivo com os integrantes do trio. Linhas brancas sobre fundo preto. Mais uma sugestão de ambiente, de clima, que necessariamente um retrato realista de três pessoas tocando. E as linhas pareciam ser uma só. Uma linha envolvendo os instrumentistas, sugerindo a simbiose, a comunhão entre bons músicos.

E música parece ocupar um tanto da alma de Maria Luisa Bragante, autora do desenho do DVD do guitarrista de Johnny Alf. Impossível a ela ficar imune à atmosfera sonora: tendo pai músico, também tocou piano. Confirmando sua afinidade com espaços e sons, Malu elaborou as ilustrações do CD "Lancelot's Adventures", de Marcelo Onofri e seu quarteto. Na série "Páginas Viradas", a artista usa partituras como suporte para as linhas que sugerem a presença dos executantes da música. A música que ela guarda no coração.

Malu tem um coração que pulsa com a música, nem sempre de forma contemplativa. Sorve a canção, participando dela. Transita pelas notas com sua dança. Ex-bailarina, sabe do que sente. E captou essa dança com uma série de desenhos do ano passado, onde mostra principalmente a ação de seres pulsantes, calorosos, em movimento sugerido por melodias invisíveis, da cintura pra baixo. Em preto e branco, num minimalismo quase invisível. E o que é a música, senão o invisível presente em nossos ouvidos?

Claro que há outros trabalhos, outras técnicas, outras abordagens, no universo amplo que Malu Bragante nos oferece. Esse universo está à espera de uma audiência maior, que pedirá outras manifestações da artista. Porque uma obra puxa a outra, e todas as obras formam uma obra única. A obra-prima de uma vida.

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