21 de fev. de 2009

Johnny Alf, música e coração


Meu disco preferido de Johhny Alf, com o encarte gentilmente autografado pelo artista 


Alfredo José da Silva, mais conhecido por Johnny Alf, é um dos precursores da bossa nova, estilo forjado por Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lyra e Roberto Menescal. Após mais de cinquenta anos de carreira, restou ao humilde Alf - cantor, compositor e pianista - a crença obstinada em seu trabalho musical, até os dias do novo século. Crença que o mantém vivo e atuante aos quase oitenta anos de idade, a serem completados em maio próximo.

Por acreditar no ser humano por trás de Ilusão à toa, O que é amar, Eu e a brisa, Luz eterna e Redenção, canções imortalizadas nos corações dos admiradores da música brasileira, tomei o trem para Santo André, onde Alf reside, para conhecê-lo pessoalmente. Uma atitude que me faria esquecer da frustração carregada por mais de dez anos, quando perdi uma rara chance de vê-lo, ele e sua banda, num show no Sesc Piracicaba.

Em plena recuperação de uma doença grave, o músico e compositor me recebe com poucas e boas palavras. Observando o desconhecido de sua poltrona, como um pacífico mestre que sabe exatamente a proporção de sua grandeza, a saraivada de perguntas sobre carreira, composições e detalhes de produção dos discos não incomoda Johnny Alf. Mas as respostas oferecidas por ele são monossilábicas, minimalistas. Alf é daqueles artistas que dizem mais em sua arte do que num bate-papo. Mas dizem tudo.

Em vinte minutos de conversa, porém, as palavras do músico começam a se expandir. Os visitantes também. Entra no quarto o cantor Djalma Dias, famoso nos anos 70 pela canção Capitão de Indústria, dos bossanovistas Marcos e Paulo Sergio Valle, incluída na trilha sonora da novela global Selva de Pedra. Djalma começa a falar do controverso Agnaldo Timóteo, cantor e atual vereador pela cidade de São Paulo, e do disco que este fez com as canções de Roberto Carlos. Johnny Alf, mais prestigiado e respeitado na música brasileira que Timóteo, elogia o intérprete do sucesso Meu grito.

Mais à vontade com a entrada do colega de ofício, a alegria de Johnny Alf aumenta com a chegada de mais visitantes: o pianista Luiz Loy e sua esposa Mara. Como Johnny, Loy é a própria história da música brasileira, especialmente a partir dos anos 60. O recém-chegado desmistifica o lendário gênio difícil de uma certa companheira de trabalho, ninguém menos que a mãe de Maria Rita: Elis Regina. Descreve a cantora como dona de um espírito solidário, capaz de presentear colegas com generosidade. A mesma Elis que faria Luiz Loy ficar um ano inteiro sem conseguir tocar uma nota, devido ao impacto de sua morte repentina há vinte e sete anos.

A conversa avança por outros assuntos, entre os quais a reestréia de Alf nos palcos paulistanos em janeiro. Dividindo o palco com as cantoras Alaíde Costa e Leny Andrade, o músico saiu do palco ovacionado pela platéia. O retorno se deu depois do seu difícil período de enfermidade no ano passado, que impediu a participação de Johnny nas comemorações do cinquentenário da bossa nova.

No espetáculo de janeiro, o artista soltou a voz e o tempo cantou, conforme o dito de Chico Buarque em canção do disco Paratodos. No hotel-residência em Santo André, Alfredo José da Silva agradeceu a visita, ganhando beijos e abraços de seus pares. Na volta a Piracicaba, continuei acreditando no ser humano por trás da música. Felizmente.

6 comentários:

SPACCA É... disse...

ótimo texto! mas coloca aí o encarte autografado para deleite da platéia da capital!
abs
sp

Fabio San Juan disse...

Beleza, é bom saber que ele está bem. E o texto está muito legal, uma notícia boa de um músico que está mal no fim da vida, mas que não foi abandonado. Parabéns!

Pedro Alexandre Sanches disse...

Uau! Johnny Alf, Luiz Loy, Djalma Dias, todos juntos de uma vez só?! Que coisa!...

Anônimo disse...

Realmente, são linhas que fazem a gente viajar na nostalgia, viagem essa ajudada pelo bem alinhavado texto.
Notinha: vinte e sete anos? Já? Caramba! Estou ficando velho mesmo.

ricardo disse...

você já opuviu o Quinteto do Loy tocando Chico Buarque ? É fantástico! Abs

Felipe Carrilho disse...

Érico,

Triste saber que o Johnny se encontra nesta situação.

Fui ao show dele neste domingo (24/5) Foi incrível,maravilhoso!!!! No link abaixo há um texto meu a respeito desta apresentação:

http://blogdojosafacrisostomo.blogspot.com/2009/05/johnny-alf-e-o-pathos-bossanovista.html

Abraço!