Você sai de casa com a calça sempre arrastando no chão. Porque compra sempre a calça com as pernas mais longas que seu corpo. Manda fazer a barra, encurta a calça. E sempre fica sobrando.
Você resolve cortar o cabelo num lugar diferente, porque está com pressa, não pode ir no lugar de sempre. Aparar o que lhe resta de cabelo, na verdade. Relevando esse mísero detalhe, você pede ao cabeleireiro que lhe raspe a cabeça, máquina 2, por favor. E ele executa o serviço quase lhe executando. Parece que vai cortar sua cabeça, não apenas seus quase inexistentes cabelos.
Você entra num ônibus, com calças arrastando e cabeça em chamas. E assiste a uma cena digna de filme. Um casal, de olhos fechados e rostos colados, beija-se apaixonada e entusiasticamente. E você olha admirado, em vez de virar o rosto, como sempre faz.
Pode ser que a cena desapareça da sua memória, substituída por apelos mais urgentes do cotidiano. Pode ser que isso não o faça acreditar no amor.
Mas a cena e o casal servem para lhe acender a esperança. Ao menos a esperança que no dia seguinte, você possa comprar uma calça com uma medida decente. E que você encontre um cabeleireiro que conserve sua cabeça acima do pescoço.
Um comentário:
Oh! Vida cruel... triste conclusão!
Abraço, Célia.
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