Nunca vi capa de CD mais feia que uma capa onde havia uma nuca. A cantora do CD que perdoe, que ela canta e compõe bem. A proximidade sugerida com o ouvinte, mais do que se imaginaria, a foto sugeriu com louvor. Se a intérprete e compositora desejava atrair a atenção para pessoas fora de seu respetável público, também conseguiu. Mas nuca é algo tão sem fotogenia. Que o diga um colega sapeca-levado-da-breca, que num estúdio de fotografia virou-se de costas para a lente da câmera. E olha que ele não canta nada.
Arrepios na nuca podem aparecer em situações-limite. Momentos em que a sensação de prazer inenarrável larga na espinha e rompe a fita de chegada na nuca. Horas em que a tensão narrável nos assalta, correndo-bufando-fugindo pela espinha. Em geral, quando o pescoço está a prêmio, a nuca responde com aquele iceberg que prenuncia um desconforto maior. Como no pressentimento em que o Titanic irá afundar. Na nossa cabeça, pelo menos. Ou no heroísmo do galã do filme-catástrofe.
Tem mais nucas por aí, em outros corpos. O corpo de certos textos. Quem diria que várias entidades, instituições, empresas e quetais adotariam as quatro letras como siglas? Numa pesquisa instantânea no pai-dos-burros virtual, apareceram quatro delas. Nuca é também Núcleo de Cinema de Animação, Núcleo de Conteúdos Ambientais e Núcleo Castor de Estudos e Atividades em Existencialismo.
Sim, nucas existem para além dos limites de um pescoço. Resta saber se outros artistas, da música ou não, continuarão a explorar os limites poéticos do verso da nossa fronte, tão pouco fotogênico.
2 comentários:
Eu, hein? VAi que uma bala nada docinha... erre seu destino e Nuca Mais, mortalmente me acerte!
Valeu, Érico!
Abraço, Célia.
Só você mesmo, Érico, pra criar um texto divertido e inteligente a partir de uma nuca. Talento é isso. Beijos!
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