
Estou falando uma língua desconhecida a vocês? Aqui cabe uma explicação aos "tiozinhos", "avozinhos" ou outros parentes-diminutivos que nunca ligaram um computador, mas sabem ao menos o que é internet. No site de relacionamentos supracitado, você só entra indicado por um "amigo virtual". Uma vez dentro do site, acontece o inevitável: uma solidão instantânea se apodera do seu ser.
Para justificar a sua súbita presença no "espaço virtual" e dar um peteleco na carência que o invadiu, você se encarrega de arrumar outros "amigos virtuais" o mais rápido possível. Ao contrário de muitas correntes, que prometem dinheiro ou coisas piores aos seus adeptos, a corrente dos "amigos virtuais" do site garante a sensação de que você jamais estará sozinho, mesmo tendo à sua frente apenas uma tela de computador. É o caminho para a felicidade, ainda que fugaz. Mas não se pode querer tudo de uma vez e ao mesmo tempo, oras.
A sigla QI (Quem Indica), tão eficiente no mundo real, é artigo de primeira necessidade no "mundo virtual" da internet. Em outras palavras: se você não tiver muitos "amigos virtuais" no "mundo virtual", há o risco de você perder seus amigos reais do mundo real, dependendo da porcentagem de radicalismo da sua comunidade.
O efeito psicológico desse boicote costuma ser devastador, principalmente entre humanos que mal espremeram sua primeira espinha ou levaram seu primeiro trote na faculdade. Mas não há defesa possível para minha suposta maturidade. Assim que entrei na "comunidade virtual", fui acometido da mesma carência de afeto comum a um portador de acne ou calouro de faculdade.
Os sites de relacionamentos despertam nos seus usuários os instintos mais primitivos de um ser humano, geralmente relacionados à infância. Há casos de homens de terno e gravata que disputam chupetas com filhos, sobrinhos ou netos. Pais de família resgatam aquele olhar carente e pidão há muito esquecido no tempo e no espaço. E há marmanjos que participam de eventos onde todos se vestem de personagens de quadrinhos e desenhos animados. Como vêem, não são só os espinhentos e universitários que padecem com as novas tecnologias.
Em matéria de adaptação, sou aquele que sempre tropeça na mesma pedra no meio do caminho. Mas a teimosia, se não me leva a desviar do caminho, pelo menos ajuda a não quebrar o pé com a dita pedra. Sou do tempo em que o elepê estava sendo substituído pelo CD, o José Sarney tingia o bigode de preto e não de acaju, o símbolo sexual do Brasil era a Maitê Proença e não uma mulher-fruta qualquer.
Nesse tempo, amizades se faziam na escola, no trabalho e em outros ambientes reais. Ao constatar que não conheço pessoalmente metade dos meus "amigos virtuais", concluo, desolado, que sou mesmo de outro tempo. Mas os mesmos "amigos" podem apontar os respectivos dedos indicadores na direção do meu nariz e dizer que isso não passa de papo de tiozinho. E sem aspas!